A edição de 2025 da Extremo Sul Ultramarathon chegou ao fim consagrando novos nomes em uma das provas mais duras do cenário mundial. Foram 226 quilômetros contínuos pela maior praia do planeta, entre a Barra do Chuí e o Cassino — um trecho extenso, desnudo e imprevisível, onde cada atleta enfrenta o ambiente com o que carrega e o que é.
Clima instável desde o primeiro passo
A largada já anunciava que o ano seria diferente. A chuva fina caiu ainda nos primeiros metros de prova e voltou a aparecer em momentos alternados nos quilômetros iniciais, deixando o terreno mais pesado e quebrando qualquer ilusão de ritmo confortável.
O vento — sempre um protagonista — variava de acordo com a maré e a faixa de areia, empurrando por vezes, travando em outras. A Extremo Sul tem essa característica: não basta força física. É preciso administrar água, alimentação, desgaste mental e longos trechos de solidão. A areia fofa, sem variação de relevo, cria um desgaste constante e silencioso, enquanto a monotonia do horizonte cobra foco de quem segue por dezenas de quilômetros sem mudança visual.

Da luz do dia ao isolamento da noite
Quando a primeira noite se aproximou, a corrida mudou de tom. A navegação passou a ser guiada apenas pela lanterna de cabeça, pelos sons do próprio corpo e pelo barulho das ondas — sempre à direita, o único parâmetro permanente da madrugada.
Mas, no final do primeiro dia e início da noite, a praia entregou um dos raros presentes: um céu parcialmente aberto e a visão distante do Farol do Albardão, um marco simbólico e operacional da prova. Ele surge ao redor do km 96, servindo como um dos principais pontos de apoio e como referência visual importante no meio da imensidão. Para muitos, é o primeiro momento em que a mente respira.
A disputa masculina: 170 km de liderança e uma virada histórica
Na categoria masculina, a estratégia e a resiliência definiram o pódio. Willian Bordin, de Bento Gonçalves, assumiu a dianteira logo cedo e sustentou a liderança por cerca de 170 quilômetros — um feito que, por si só, já destacaria sua performance como uma das grandes da prova.
Mas, após horas de desgaste acumulado, a consistência de Valmor Fiamoncini, o Pépe, começou a aparecer. Com ritmo firme e leitura precisa do terreno, Pepe aproximou, encostou e ultrapassou Willian já no terço final da prova.
Dali em diante, manteve o controle até cruzar a linha de chegada em 28:2G:00, consolidando uma das performances mais sólidas da história recente do evento.
Willian chegou logo depois, em 2G:47:00, carregando um esforço monumental. O pódio foi completado por um empate técnico entre Ricardo Santos e Laércio Martins, ambos fechando em 32:34:00.
O pódio feminino: consistência, força e disputa apertada
Entre as mulheres, a regularidade ditou o resultado. Isadora Soares confirmou seu nome entre as grandes do país ao vencer com 35:13:00, administrando bem o clima instável e os longos trechos de isolamento.
A segunda colocação ficou com Clediane Lunardi, que finalizou em 35:25:00 após uma disputa intensa.
A norte-americana Rachel Belmont completou o pódio com 38:32:00, demonstrando adaptação notável a um tipo de terreno pouco comum para atletas internacionais.
Classificação – Top 3 Masculino e Feminino
| Posição | Gênero Nome Completo | Nacionalidade | Tempo |
| 1º | Masculino Valmor Fiamoncini (Pepe) | BRA | 28:29:00 |
| 2º | Masculino Willian Bordin | BRA | 29:47:00 |
| 3º | Masculino Ricardo Santos / Laércio Martins | BRA | 32:34:00 |
| 1º | Feminino Isadora Soares | BRA | 35:13:00 |
| 2º | Feminino Clediane Lunardi | BRA | 35:25:00 |
| 3º | Feminino Rachel Belmont | EUA | 38:32:00 |
Uma edição que reforça o que a Extremo Sul realmente é
Mais do que tempos ou posições, a Extremo Sul Ultramarathon segue afirmando seu status como um dos maiores testes de ultrarresistência do mundo. Aqui, cada atleta cruza a linha de chegada com o rosto marcado pela mistura de alívio, exaustão e uma compreensão renovada de si mesmo.
Porque, na maior praia do planeta, não se compete apenas contra o relógio — compete-se contra o ambiente, contra a mente e contra a própria ideia de limite.













