No último sábado (25), o festival da montanha Rocky Mountain Games realizou uma edição histórica no Parque da Lagoinha, em Campos do Jordão (SP). Com 1.700 atletas inscritos, foi a etapa mais movimentada desde a criação do evento, reunindo corredores, ciclistas e aventureiros em um dia clássico de montanha — frio na largada, sol generoso ao longo do dia e trilhas perfeitas que exploraram o “lado B” da Serra da Mantiqueira.
Mais do que uma competição, o Rocky Mountain Games manteve a tradição de celebrar a cultura outdoor em um grande encontro na montanha. Em um dia típico de primavera, com céu azul, o clima acolhedor do Parque da Lagoinha foi o cenário ideal para tudo o que está no DNA do festival: percursos desafiadores e uma conexão genuína entre esporte, natureza e pessoas apaixonadas pelo estilo de vida ao ar livre.
“Não deu para esconder a felicidade, a emoção e a gratidão ao ver 1.700 atletas largando aqui em Campos do Jordão, em todas as modalidades — um recorde absoluto”, destaca Caco Alzugaray, publisher da Rocky Mountain Sports Content e idealizador do evento. “E o mais especial é que nossa primeira etapa também foi aqui em Campos, em 2019, quando os atletas encararam praticamente 0°C no Pico do Imbiri. Desta vez, tivemos um dia lindo, com temperaturas amenas, trilhas secas e convidativas”, completa Alzugaray.
Ao longo do dia, mais de 2.500 pessoas passaram pela inédita arena do RMG no Parque da Lagoinha, um refúgio da natureza localizado a menos de 10 minutos do centrinho de Campos do Jordão. Com 48 mil m² de área verde, o local se tornou parada obrigatória para quem vive o outdoor na cidade, proporcionando uma atmosfera perfeita para a saideira do RMG em 2025.
Entre o vai e vem de atletas, familiares, amigos e curiosos também curtiram um dia recheado de atrações com o Trekking Experience, Acampamento Go Outside, ativações de patrocinadores, food trucks, shows e até sessão de cinema com os documentários que brilharam recentemente no festival Rocky Spirit.
Um dos gigantes por trás da cena dos esportes de aventura no Brasil, o trail runner Sidney Togumi, 52 anos, foi um dos atletas que prestigiaram a prova em Campos do Jordão e aprovou a nova sede do Rocky Mountain Games no Parque da Lagoinha. “A arena aqui está espetacular, cercada de lagoas, com um baita espaço e muita sombra pra relaxar”, comenta Togumi.
“É um festival que, do mesmo jeito que o percurso te convida a correr, quando você cruza a linha de chegada, a arena te convida a ficar”, arremata Togumi, que participou dos 21K do trail run e levou tudo na brincadeira: “Não foi uma prova muito longa, então deu tempo de correr, sofrer bastante, e depois encontrar os amigos e ficar na resenha”.

Dobradinha em Campos
Mais uma vez, o RMG teve modalidades que procuraram atender todas as tribos da montanha. Em Campos foram realizadas provas de Trail Run (6 km, 12 km, 21 km e 42 km), MTB (25 km e 50 km), e-MTB (Turbo Pro e Super Light), Gravel, Canicross (5 km), Trekking Experience, Uphill e Desafio Rocky (10 km trail + 25 km MTB).
Para os atletas, foi uma oportunidade para explorar percursos inéditos no Rocky Mountain Games que passaram pelo lado sudoeste da cidade, cortando regiões menos conhecidas de Campos do Jordão e da Serra da Mantiqueira como Ferradura e Descansópolis. As trilhas, secas e rápidas, renderam disputas acirradas e sorrisos largos a cada chegada.

Além dos troféus da etapa, também estiveram em jogo os títulos do circuito, já que o Rocky Mountain Games passou por Atibaia e Juquitiba nesta temporada. E, se os percursos foram desenhados para explorar o “lado B” da Mantiqueira, com trechos que combinaram asfalto, terra batida e trilhas técnicas, a prova de Uphill estreou um novo formato, ainda mais dinâmico, com baterias eliminatórias e um percurso de 1.200 metros de pura subida no Lagoinha.
E o grande destaque do RMG Campos saiu justamente das disputas explosivas do Uphill. Atleta da vizinha Monteiro Lobato, Ayslan Miragaia, de 25 anos, brilhou ao cravar uma dobradinha no Parque da Lagoinha: além do Uphill, ele também abocanhou o Trail Run 21K, destacando a estratégia e a parte mental como fundamentais para superar um longo dia de provas em Campos.
“Foi um dia incrível, público vibrando bastante e consegui fazer essa dobradinha. O percurso do Trail foi bem rápido, e o Uphill exigiu estratégia, com duas baterias e uma final. Tive que administrar bem o fôlego, e deu tudo certo”, contou Ayslan, que é familiarizado com as trilhas da Serra da Mantiqueira e o ar rarefeito de Campos, já que a cidade fica a 1.628 metros acima do nível do mar.
“Sou daqui de perto, então conheço bem o ambiente e as trilhas — roladas, mas também técnicas. E o evento está sensacional. Não tem arena igual: tem brincadeira pra criança, área de recovery e uma vibe pós-prova muito massa. Tudo isso ajuda no desempenho final”, finalizou Ayslan.
Canicross em alta

Se as trilhas rápidas e penteadas do Lagoinha exigiram estratégia e técnica, também foram palco de grandes histórias. Entre os mais de 1.700 atletas que participaram do Rocky Mountain Games em Campos, uma dupla roubou a cena na prova de canicross: a médica veterinária Fernanda Gonsales, 46, e seu parceiro de corrida, o Cosme, um veterano vira-latas caramelo que arrancou aplausos da galera na linha de chegada.
“A gente ama o Rocky Mountain. Foi nesse festival que conhecemos o canicross”, contou Fernanda, ainda ofegante depois da chegada. “O percurso estava superdivertido, do jeito que a gente gosta — começa com subida, quase nada de asfalto, muita trilha, mato, pedrinha, estradão. Tudo que o canicross tem de bom”, relata Fernanda.
O canicross do Rocky Mountain Games em Campos do Jordão também entrou para a história. Ao todo, 120 duplas competiram no Lagoinha, consolidando o evento como o maior da modalidade já realizado no Brasil. Iniciantes, veteranos e aqueles que descobriram há pouco tempo o prazer de correr juntos — como Fernanda e seu cão Cosme — se reuniram na linha de largada, criando um dos momentos mais aguardados do RMG Campos.
“O Cosme é um caramelo idoso. Ele invadiu a minha casa — foi ele quem me adotou”, lembra, rindo. “Chegou cheio de sarna, todo judiado, e eu, sedentária, sem fazer nada de exercício. Comecei a correr com ele num parque perto de casa, que eu nunca tinha nem entrado”, relembra Fernanda. “Foi nesse mesmo parque que alguém perguntou se a gente estava treinando para o Rocky Mountain Games. Eu nem sabia o que era. E foi assim que conheci o festival e tudo começou”, finaliza a atleta.
Novos talentos na trilha
Entre as centenas de atletas que cruzaram a linha de chegada do Rocky Mountain Games, um grupo em especial simbolizou o verdadeiro espírito do evento: as meninas do projeto social Talentos do Capão, de São Paulo, que participaram pela primeira vez de uma corrida de montanha — e viveram uma aventura digna de filme.
“Estamos acostumadas a correr na rua, foi uma experiência nova pra gente, mas a prova foi muito animal”, contou a jovem Sophia Queiroz, de 13 anos, ainda empolgada após a chegada. “Teve uma hora que a trilha ficou bem difícil. A gente subiu, subiu… e, de repente, não vimos mais ninguém! Ninguém sabia pra onde ir. Encontramos um moço no caminho e todo mundo começou a descer de bunda, porque não dava pra descer de pé!”, lembra, rindo.
Mesmo com os perrengues típicos da montanha, a empolgação foi unânime. “Teve uma subida que foi muito legal, porque a gente teve que escalar. Foi diferente de tudo o que a gente já tinha feito”, complementa Ryana Maria, também de 13 anos.

Criado na comunidade do Capão Redondo, o projeto Talentos do Capão atende cerca de 230 crianças e adolescentes, oferecendo inclusão social por meio do esporte — como triathlon, maratona aquática, corrida e até balé. A iniciativa se mantém com ações de sustentabilidade e reciclagem, e conta com apoio de parceiros, entre eles o próprio Rocky Mountain Games, que ajudou a viabilizar a participação das atletas nesta etapa.
“Sem os apoiadores, a gente não conseguiria levar as crianças para lugares como esse”, explica a triatleta e treinadora Clarice Henrique, que faz parte do projeto. “Hoje temos equipes competindo em três lugares diferentes: uma aqui no RMG, outra em uma prova de natação no litoral paulista e outra no Egito. É motivo de muito orgulho”, finaliza Clarisse.
No fim do dia, as meninas do projeto Talentos do Capão resumiram o espírito que tomou conta de muitos atletas em Campos do Jordão — a alegria de se conectar com as trilhas e com a energia contagiante do Rocky Mountain Games. “A gente amou! Com certeza essa foi a primeira de muitas experiências em provas de montanha”, celebraram.
Os campeões de Campos do Jordão
Uphill
Carol Carpi
Ayslan Miragaia
Gravel
Gesibel dos Santos Rodrigues
Willian Soares Rebouças
MTB 50
Thays Helena Lemos Gobo
Anderson Souza da Silva
MTB 25
Thaise Azevedo
Ricardo de Tarso Soares da Silva
Desafio Rocky
Luigi Caputo
Luanna Teixeira
Canicross
Juliana Martuscelli
Marcelo Vieira
E-MTB Turbo Pro
Beatriz Paranhos
Diego Marcolin
Trail Run 6K
Mayara Dias Carneiro
Gustavo Valverde
Trail Run 12K
Samanta Lucindo
Flavio Lemes
Trail Run 21K
Giovanna Martins
Ayslan Miragaia
Trail Run 42K
Mayani Andrade de Jesus
Carlos Henrique de Paula





