Por Fabiana Duarte
No feriado de Corpus Christi, tive o prazer de participar da Haka Expedition 2025, uma das mais renomadas competições de expedição de corrida de aventura do Brasil. Este ano, a prova integrou o calendário oficial do ARWS Brazil Series (ARWS), reunindo atletas nacionais e internacionais na cidade de Caraguatatuba (SP), entre os dias 19 e 22 de junho.
O evento desafiou os participantes com três percursos distintos – 75 km, 125 km e 250 km – combinando modalidades como mountain bike, trekking, canoagem e rapel. Mais do que uma competição, a Haka Expedition é um verdadeiro teste de resistência física, capacidade de navegação com mapa e bússola, trabalho em equipe e, sobretudo, de respeito ao meio ambiente. As categorias contempladas foram: quarteto misto, dupla masculina, dupla mista e solo.
Tradicionalmente, participo na categoria quarteto misto com a equipe Redwings (MG), porém, devido à inesperada desistência de um de nossos atletas por motivo de saúde, fomos obrigados a readequar nossa participação. Inscrevemo-nos, então, nas categorias solo e dupla mista para enfrentar os desafiadores 250 km de percurso. Coube a mim e ao meu parceiro Agnaldo (de Bom Despacho – MG) compor a dupla mista.

Desde o início, os desafios extrapolaram os limites da prova. Precisei buscar alternativas de transporte terrestre de última hora e, por esse motivo, só cheguei à sede do evento na quinta-feira, às 23 horas, quando a distribuição dos mapas e a checagem dos equipamentos obrigatórios já haviam sido concluídas. Agnaldo, nosso exímio navegador, teve pouco tempo para se concentrar na leitura e planejamento de navegação, o que lhe trouxe especial preocupação, sobretudo em relação ao trecho de canoagem, em uma represa repleta de enseadas e pontas.
Dormimos tarde naquela noite e, logo ao amanhecer da sexta-feira, nos empenhamos na entrega das bicicletas na área de transição (AT), bem como das bolsas de abastecimento, que continham nossos equipamentos, roupas secas e alimentação – itens indispensáveis para enfrentar o percurso.
A largada aconteceu às 10 horas da manhã, na praia central de Caraguatatuba, com a modalidade de trekking. Mantivemos um ritmo forte nas primeiras horas, porém, durante a subida da montanha, Agnaldo começou a sentir-se mal, relatando, com suas próprias palavras, que “fervia” – uma reação clara ao esforço e ao calor, que comprometeu sua capacidade de raciocínio e, consequentemente, a navegação. Por conta disso, erramos o acesso a alguns pontos de controle (PCs), o que nos fez perder um tempo precioso antes de alcançar a transição para o primeiro trecho de mountain bike, que, felizmente, exigia apenas uma navegação urbana de menor complexidade.
Na sequência, enfrentamos o segundo trekking e realizamos um emocionante rapel na Cachoeira Esmeralda, dentro dos limites do Parque Nacional da Serra do Mar. Mesmo assim, Agnaldo ainda lutava contra o mal-estar, o que demandou algumas paradas para recuperação. Com o apoio e experiência de nosso companheiro de equipe André (de Belo Horizonte – MG), que, embora estivesse inscrito na categoria solo, nos acompanhou por todo percurso, conseguimos completar essa etapa com sucesso.
Já na transição para a canoagem, que se daria à noite, enfrentamos um novo contratempo: percebi, com grande preocupação, que havia esquecido de colocar meu colete salva-vidas na bolsa de equipamentos, o que poderia nos desclassificar. Sensibilizado, André prontificou-se a nos emprestar o seu colete, abrindo mão de continuar sua própria prova. Entretanto, ao chegarmos à AT, conseguimos, por sorte, encontrar um colete com um pescador local, o que nos permitiu seguir adiante.
Partimos então para a navegação noturna na represa. Agnaldo já apresentava sinais de melhora, e juntos mantivemos um bom ritmo de remada. As baixas temperaturas, porém, foram um obstáculo à parte. Senti um frio intenso durante toda a canoagem e, posteriormente, soubemos que duas equipes tiveram de abandonar a prova devido a casos de hipotermia.
Na transição para a etapa mais longa de mountain bike (110 km), decidimos, prudentemente, nos aquecer em uma fogueira improvisada na AT e nos alimentar adequadamente antes de prosseguir. Esse cuidado foi fundamental, pois a sequência exigiria o máximo de nossas capacidades físicas e mentais. O percurso foi extenuante, com elevada altimetria e descidas de alta periculosidade. Apesar da dificuldade, conseguimos completar a etapa sem erros de navegação.
Infelizmente, durante essa fase, uma das principais equipes da competição, a Brazil Multisport, precisou abandonar a prova após a queda de uma de suas atletas, a mineira Mariana Pontes (BH), que sofreu uma fratura na clavícula.
Com muito esforço, resiliência e espírito de equipe, conseguimos finalizar a prova em boas condições físicas e alcançar um honroso terceiro lugar na categoria dupla mista. O pódio foi completado pelas equipes Tubaína (SP), em primeiro lugar, e Papaventuras (RS), em segundo e foi uma alegria a mais pra mim estar ao lado de mulheres atletas que admiro muito: Shubi Guimarães e Rose Muller.
Finalizo este relato com um profundo sentimento de gratidão aos meus parceiros Agnaldo e André, por mais essa inesquecível aventura que agora integra, com orgulho, a minha trajetória esportiva.


