Manhã de domingo, 29 de janeiro de 2012. San Pedro do Atacama acorda mais cedo e se prepara para a maratona Mountain Do. Adrenalina ao acordar.
Um café da manhã no hotel com banana, sanduíche e suco e o coração já estava batendo um pouco mais forte que o normal. Tênis no pé, GPS no punho (para medir a distância percorrida e a velocidade) macacão, numeral na cintura (um belo número, 16), MP3 no ouvido, protetor solar, uma viseirinha na cabeça e uma vontade enorme de encarar os 42 km no deserto mais árido do mundo. O relógio marcava 6h50 quando saímos do hotel em direção a uma praça muito simpática no centrinho da cidade.
Chip (marcador do tempo da prova) no pé e uma "muvuca" de gente para todos os lados. Havia umas 500 pessoas entre corredores, amigos e simpatizantes do Mountain Do. O som alto e o locutor incentivando os participantes marcava o momento pré-largada.
Me posicionei em um lugar mais à frente para ter um pouco mais de tranquilidade na hora da largada. 5...4...3...2....1. Foi dada a largada do grande desafio. Liguei o GPS e saí em passos tímidos, mas fortes, no meio de tanta gente. Todos os participantes largaram juntos e um pouco mais a frente se dividiam, com os 5 Km seguindo em frente, onde minha grande amiga Clarines Costantin estava a fazer bonito, e os 21 Km e 42 Km iam para a esquerda.
Nesse momento vi que estava me sentindo muito bem, a altitude não havia feito nada de diferente no meu corpo. Aumentei as minhas passadas e tomei a decisão de iniciar uma corrida forte. Estava no primeiro pelotão e à frente de quem iria fazer os 21 km.
As indicações da prova, sempre de 5 em 5 Km, vinham passando com muita facilidade por mim e na última divisão, 21 Km para direita e os 42 Km seguindo reto, um corredor me falou "Tu és a primeira mulher dos 42 km". Dei um sorriso amarelinho e disse a ele que não... Tinha um um pelotão enorme na frente, mas segui firme e sorrindo.
A paisagem começou a mudar. O Vale de La Luna chegou e a primeira parte do perrengue começou. O lugar é quase indescritível! É uma espécie de canioning, com areia aos pés e montanhas de pedras com uma terra vermelha dos dois lados e também cavernas.
Passei por ali firme a cada passada. Pegamos um "dunão" de areia pela frente e saímos no Km 15 para um trecho de bate e volta e ali cruzei com os primeiros colocados da prova, eu indo e eles voltando. Cruzei com o grande amigo Giorgio Rabolini e ele gritou "Vai Déia, tu és a primeira mulher" e eu realmente não havia encontrado nenhuma outra até chegar ao final de uma descida para retornar subindo.
Fiquei feliz e confiante, pois cruzei com a primeira mulher realmente lá em cima e nesse momento eu decidi que a prova era minha. É claro que já havia dito isso muitas vezes para mim, mesmo antes da prova, e vim para o Atacama com o objetivo de ganhar a prova, mas sempre lembrando que eu não era única a desejar esse feito, e sabendo que outras garotas, assim como eu, haviam se preparado.
Tive que tomar a decisão de seguir correndo firme e forte, mas com juizo, pois havia muito e muitos quilômetros à frente. Entramos no Vale da Muerte e me senti confiante. A cada passada a dificuldade do terreno aumentava, mas eu me sentia muito bem.
O resultado final foi encher o peito ao ser a primeira mulher a cruzar a linha de chegada. Um sorriso no coração, uma bandeira brasileira a mão e lágrima na face, foi o cenário dessa grande conquista: vencedora da primeira maratona do Montain Do no deserto mais árido do mundo em 4h15.
Nessa hora bateu um orgulho enorme em ser uma cidadã igrejinhense, uma gaúcha e brasileira.
Clarines Costantim chegou em 3º lugar nos 5 Km, fazendo um lindo pódio também. Duas lagartixas no Deserto do Atacama, correram, se divertiram e tiveram o privilégio de chegar no pódio de uma grande corrida.
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