Relato da equipe AKSA no Chauás 300 - 2011

Por Talita Margonari Lazzuri  - 17.Nov.2011

Sentada aqui no computador, de volta a civilização, a sensação que tenho após conseguir completar a Chauás 300km foi de que me jogaram dentro de um liquidificador por 3 dias! Minha nossa, que L-O-U-C-U-R-A!!!  Ali na chegada, após 55 horas de MUITO perrengue, eu e o Vavá estávamos emocionados em terminar a prova, afinal era a minha primeira prova longa, o primeiro grande desafio.

Chauás 300

A AKSA foi única dupla mista a cruzar o pórtico de chegada sem cortes, aliás eu fui a primeira mulher a cruzar o pórtico com a prova completa e todos os PCs virtuais, realmente emocionante... Os carrascos Fran e Lucas, com aquele sorriso feliz, vinham calorosamente receber um a um com um abraço reanimador! Claro que ali no pórtico fiz o comentário mais obvio “COMO FOI DURA ESSA PROVA!!!!”.

O Lucas olhou pra mim sorrindo e com o mapa da Chauás na mão, foi deslizando o dedo no mapa e falando "libera um pouquinho, ferra um pouquinho, libera um pouquinho e ferra um pouquinho..." Na verdade ele não falou ferra, ele usou outra palavra que começa com F também, hehehe... Deu pra sentir o drama?

Em junho, quando eu realmente comecei a treinar após a gravidez (para quem não sabe, eu e o Vavá temos um filhinho que está com um ano e quatro meses) fizemos uma planilha de provas e o Chauás 300km era a nossa prova alvo...

O Daniel Franquin (AKSA Assessoria Esportiva) nos passou as planilhas de treino e toda a nossa epopéia começou há meses... Então para quem realmente quer completar essa prova, não pode se deixar levar pela empolgação... tem que ver a realidade da prova, focar e trabalhar muito em cima... pois além do físico ela exige muito do emocional e muito do navegador, mas muito mesmo, e o Vavá se superou! Navegou eximiamente!

Tenho em mente vários flashes da prova, principalmente como a sobrevivência fala mais alto do que a competitividade. Isso é lindo na corrida de aventura! Para chegar no PC4 estava dificílimo, a navegação estava duríssima e foi impressionante como vários navegadores se juntavam para concluir sobre o melhor caminho, onde estávamos, etc e tal... A comunhão e apoio de uma equipe para a outra foi muito importante para o sucesso do grupo todo...

O que sei é que o Vavá navegou sem erro nenhum até o PC10 (200km de prova). Ele tinha me prometido antes da prova que iríamos fazer um ritmo de expedição, mas ele deu uma forçada para chegarmos em primeiro de todas as duplas no PC10. Lá na nossa frente, se não me engano, chegou somente o Pablo Bucciarelli, mas como ele tinha a embarcação diferente da nossa, estava com certa vantagem de tempo.

Até o PC10 deu tudo certo, em muitos momentos cruzamos a Unimed Rio e os Irmãos Metrilhas e em vários momentos seguimos juntos nos apoiando na orientação, pois um mapa Chauás só conhece quem já fez um Chauás...

Meu primeiro problema foi o sono na segunda perna de canoagem... Tivemos que parar em uma ilhota para eu dormir uns 15 minutos... Fora isso tudo corria bem... Ah senti muita dor na mão durante a segunda perna de canoagem, isso me deixou um pouco apreensiva, pois eu não sabia se iríamos remar mais depois do PC10...

Chegamos no PC10 e ali eu estava oca e muito cansada... precisava recuperar... Fiz isso enquanto o Dani (meu treinador) plotava os mapas...

Logo que saímos do PC10 de bike, uma meia hora depois eu ainda estava muito cansada... Fiz o INFELIZ comentário com o Vavá que eu queria pegar o corte no PC12... Que eu não ia agüentar terminar... Isso ACABOU com a motivação do Vavá, que estava super empolgado e ficou super decepcionado, perdeu o foco e começou a errar na orientação... escureceu e nesse meio tempo cruzamos nossos amigos e companheiros de treinos da Guanacos/AKSA (quarteto).

Isso foi uma sorte pois logo na seqüência começou a chover e fazer muito frio... Éramos um sexteto com hipotermia e com o emocional abalado com a situação toda, pois nossa roupa era insuficiente para aquela água toda que caía e estávamos perdidos tentando chegar no PC12... Isso já era a segunda noite...

Além de um cochilo em um ponto de ônibus, nós seis achamos um posto bem pertinho da entrada da estrada do PC12 e resolvemos dormir ali, pois ninguém tinha forças para pedalar 8km, porque o sono era absurdo...

Um pouco antes do amanhecer saímos para o PC12 encontrar nosso apoio e colocar em prática o lance do corte. Pensávamos que estávamos com uma péssima colocação, a vontade de parar era enorme, mas fomos informados pelo Dani e Marcelinho (nossos apoios) que ainda estávamos todos liderando nossas categorias, que poucos atletas tinham passado, somente duplas e solo e isso nos motivou a continuar, AINDA ESTAVAMOS NO JOGO!

Nesse momento a competitividade me dominou. Eu queria continuar, só que o problema era que por minha culpa o Vavá estava super desmotivado. Por sorte nossos apoios fizeram o maior discurso de motivação que eu já vi na vida, afinal foram meses de preparo, estávamos fortes, não podíamos deixar que o frio e o desânimo continuassem abalando... o dia estava clareando, tínhamos chocolate quente, comidinha gostosa, muito incentivo, YES! VOLTAMOS PRO JOGO!!!

Olha, se não fossem o Marcelinho e o Dani, realmente não teríamos continuado. Iríamos pegar o corte ou quem sabe desistir... Eles realmente fizeram o papel de um grande apoio, em todos os momentos tínhamos comida deliciosa e quentinha, bikes revisadas como novas, roupas secas...era o momento que não precisávamos pensar em nada.

Como são atletas experiêntes e parceiros de equipe, sabiam muito bem o que precisávamos, foi tudo perfeito, nem sei como agradecer a vocês!!!

Claro que a epopéia Chauas continuaria, não teve NENHUM ALIVIO até a chegada. Ainda nos perdemos pra achar a trilha correta que levava pro PC17, tivemos muitos problemas. Sim, eu chorei mais uma vez quando tivemos que enfrentar a subida íngreme e infindável pra chegar no PC virtual 19... A comida acabando... Enfim uma luta e superação pra chegar!

Fiquei impressionada com a determinação dos Guanacos, que são alunos da AKSA também! Eles são fortíssimos, determinados!

Na subida pro PC17, quando eles viram que poderiam perder o pódio - pois como demoramos para achar a trilha certa pro PC, os quartetos Papaventuras e Leões de Judá passaram na frente deles, de primeiro eles caíram para terceiro - naquele momento eles engataram a Dani, que estava com o tornozelo ruim e socaram a bota... Forçaram mesmo para recuperar e não perder posições, pois a Competition Aroeira vinha atrás... Foram guerreiros, estavam ali na maior pegada de prova!

Ficamos mais do que felizes em vê-los chegar em segundo e ainda saber que eles levaram a vaga do Ecomotion! É muita emoção!

Tem final mais do que perfeito para a família AKSA?!!! Não, não tem.

Eu só sei que depois que fiz a inscrição para esse Chauás 300km, eu tive algumas crises de pânico... Cheguei a falar pro Vavá que não queria fazer a prova, estava com medo, pois eu sabia o que ia enfrentar... Na verdade eu nem tinha idéia do que ia enfrentar... ainda bem...

Talita Margonari Lazzuri
Equipe AKSA

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