Chauás 300 km 2011: para poucos e loucos?

Por Wladimir Togumi - 16.Nov.2011

Temida por uns e adorada por outros, a Chauás mantém uma aura de desafio desde a sua criação em 2003, e este ano a sua maior prova chegou com um slogan provocador, reforçando a sua missão nas corridas de aventura: Vem quem quer, termina quem pode.

No total, 103 atletas  - 11 quartetos, 8 duplas mistas, 16 duplas masculinas e 11 atletas solo -  quiseram ver de perto o que a dupla Lucas Gerônimo e Fran Perez havia preparado em um percurso que saiu de Bertioga, subiu a Serra do Mar, passou por Salesópolis, Natividade da Serra e terminou em São Luis do Paraitinga, percorrendo 300 quilômetros em 2-3 dias.

E como esperado, a Chauás 300 Km foi uma prova muito difícil e de acordo com os participantes, a organização não aliviou em momento algum. Os pontos críticos da prova foram... todos!

Chauás 300 2011

Mas os piores ficaram logo na subida da serra, quando os atletas saiam do mirante da rodovia Mogi-Bertioga e seguiam em direção a Biritiba-Mirim, próximo a Salesópolis (seção PC3-PC4) e na busca do PC4A, um posto de controle virtual no meio de um emaranhado de estradas que não batia com o mapa.

A largada da praça de eventos do Forte São João em Bertioga, chamou a atenção dos banhistas que aproveitavam o começo do final de semana prolongado. O clima era ameno e o céu nublado.

Depois de uma corrida na praia os atletas retornaram para o mesmo ponto da largada e pegaram seus caiaques para começar a subida do rio Itapanhaú. A aventura estava só começando.

A energia na arena de largada não poderia ser melhor. Atletas não apenas ansiosos pelo grande desafio que viria, mas também contentes por estarem ali, muitos enfrentando pela primeira vez uma corrida tão longa. Vale destacar que apesar de ser a primeira prova longa de alguns, não era o primeiro contato deles com a Chauás e isso faz uma grande diferença para saber o que encontrariam pela frente.

E a "confusão" começou cedo. Uma estreita linha azul no mapa indicava um atalho que poderia economizar alguns quilômetros de remada, mas ninguem sabia se era possível remar por ali. Por fim, o pequeno riacho se mostrou uma opção ruim e era melhor ter remado pelo caminho principal.

Terminada a canoagem, hora de subir. "Para o alto, e avante!". A subida da serra foi impiedosa logo em seu primeiro trecho. Provavelmente os motoristas que desciam a Mogi-Bertioga não entendiam nada quando algumas pessoas surgiam do nada, ali no mirante, e caminhavam com suas lanternas acesas pelo acostamento da estrada. Fazia frio e a chuva e a neblina iam e voltava a todo momento. Mais engraçado seria se estivesse fazendo sol e houvesse muitos turistas por lá, olhando para o litoral e de repente, começassem a surgir as camisetas vermelhas do meio daquele monte da mato que cobra toda a serra.

Ao saber que as primeiras equipes tinham acabado de chegar ali, Fran falou no rádio: "Agora sim é que vai começar a Chauás". E não foi diferente.

As primeiras equipes foram aparecer na primeira transição, em Biritiba Mirim - no alto da serra - apenas 12 horas depois da largada. E as últimas nem mesmo chegaram. Se perderam por várias horas e decidiram voltar para trás. Até a manhã de segunda feira a organização procurava pelos "perdidos", mas o fato é que eles estavam a salvo e voltaram para o litoral. Uma falha de comunicação interna estendeu a busca durante quase todo o tempo de prova.

Final do trekking, hora de começar a girar. Mas as dificuldades não tinham terminado e achar o agora famoso bar Luar do Sertão, tomou de 5 a 12 horas das equipes. Teve equipe que decidiu voltar para o PC anterior e começar tudo de novo e mesmo assim "bateu cabeça" por muitas outras horas.

A estória dos atletas que chegavam no PC5 era a mesma: mapa confuso, todo mundo perdido, encontro com equipes em todas as opções de caminho, vindos de todos os lados. Tomando uma liberdade poética, a conversa de cada nova equipe que se integrava ao grupo era mais ou menos assim:
- Vou tentar pela esquerda.
- Já fomos.
- Então vou por aquela outra estrada à direita.
- Também já fomos e não deu em nada.
- E aquela em frente?
- ...

Teve equipe quer relatou ter simplesmente chegado no bar, sem saber como nem porque.

Foi nesse trecho que a classificação geral sofreu sua primeira grande mudança e os primeiros colocados a sair pedalando chegaram depois de muita gente. Quem se deu bem foram a Unimed Rio/Terra de Gigantes e Santa Ritta Adventure, os primeiros a sair do labirinto.

O grande problema das equipes que ficaram perdidas por tanto tempo não foi tanto a parte fisica, mas principalmente pelo fato da comida ficar escassa e ainda ter muita coisa pela frente. Como a corrida passa por locais remotos, não havia a garantia de poder comprar alguma coisa no meio do caminho.

A primeira noite ficou para trás e a segunda seção de canoagem pela represa da Paraibuna exigiu novamente dos navegadores. Qualquer descuido com a navegação poderia levar para um braço errado e terminar num beco sem saída. Pior para quem remou durante a noite.

Para encontrar sua equipe do outro lado da represa, os apoios tiveram que se apressar porque o caminho era longo de Salesópolis até Natividade da Serra e mesmo correndo contra o relógio, algumas equipes tiveram que esperar a chegada dos seus suprimentos para fazer a transição. Neste ponto algumas equipes também optaram por dormir algumas horas e enfrentar a navegação da segunda noite um pouco mais descansados.

São Pedro resolveu fazer a sua parte no final de domingo, lançando muita chuva e muito frio para cima dos competidores. Ele parecia querer testar quem realmente estava preparado para a corrida.

Devido ao tempo de prova a organização diminuiu o percurso, mas não a dificuldade e o podium acabou sendo definido por um PCVirtual. Aliás, podemos dizer que a prova toda foi definida pelos PC's Virtuais 4A e 19. A existência de outros bares, no caso do 4A, e outras capelas, do 19, confundiu ainda mais a cabeça dos navegadores.

As equipes começaram a chegar em São Luis do Paraitinga na tarde de segunda e seguiu noite adentro até a madrugada de terça. Nas categorias Quartetos e Solo os primeiros a cruzar a chegada foram penalizados e ficaram de fora do pódium.

Os atletas chegavam cansados e com sono, mas com um sorriso no rosto que deve durar mais alguns dias. Provavelmente seus colegas de trabalho ouvirão por muito tempo a grande quantidade de estórias acumuladas em apenas um final de semana prolongado e não entenderão porque aquela pessoa está tão contente depois de passar por todo aquele sofrimento.

O que eles precisam entender é que esses atletas não completaram apenas uma prova de 300 quilômetros. Elas completaram uma Chauás de 300 Km, provavelmente a mais temida corrida de aventura brasileira. E isso não é qualquer um que pode incluir no curriculo.

Para ver como foi a cobertura online, clique na imagem abaixo:


publicidade
publicidade
Cadastro
Cadastre seu email e receba as noticias automaticamente no seu email diariamente
Redes Sociais