O Campeonato Mundial segue aqui na Tasmania com as equipes entrantando muitas dificuldades no trecho de trekking de 60km seguido de 30km de canoagem. Os primeiros colocados passaram rapidamente por esses trechos mas não sem uma boa dose de sofrimento. O trekking passava por pontos altos de montanha e atletas disseram ter nevado durante a madrugada. A chuva fina que caiu ajudou a tornar a superficie ainda mais escorregadia e fez com que o rapel, em uma belissima cachoeira, fosse cancelado, dado que os pontos de ancoragem ficaram inundados.
Descendo por uma trilha lateral, os times tiveram que lidar com um leito de rio pedregoso, escorregadio e sem condições de progredir pelas margens, o que obrigou a todos a entrarem na agua gelada durante a madrugada para avançar pelo rio. Diogo Malagon ficou impressionado com o perigo do trecho. "Tivemos que andar naquelas pedras sem capacete, nadar nas piscinas do rio sem colete, num frio lascado e ainda padecendo com um PC que não estava na margem correta do rio. Isso nos fez perder 3 horas, já que durante a noite era impossivel ver o PC. Quem passou de dia se deu bem".
Esse foi o primeiro erro da organização, que até aqui seguia impecável. Outro problema relatado foi o time Nga Rakau da NZ, que não recebeu a tempo seu saco de canoagem e teve que ficar parado na transição. Ganharam bônus de tempo da organização e tiveram a sorte de poder dormir, enquanto a maioria dos times vai tentar chegar ao "midcamp" para dormir dentro das 6h obrigatorias.
A Team Seagate, que vinha liderando desde o inicio da prova, chegou primeiro ao final da canoagem depois de um trecho de 8 km onde os 4 atletas remavam em um unico duck devido a grande dificuldade logistica de levar barcos para o inicio do Lago Mackintosh. Eles foram levados pela água em 8 viagens com demoravam 3h de ida e volta. A seguir, esse duck era trocado por dois caiaques rigidos de plastico para o resto dos 22km. Havia uma portagem de 2Km perto do final, que era bem ingreme, sobretudo na volta para a água. Apenas um time levou "troleys" e conseguiu uma boa vantagem, já que ainda havia 7 Km de canoagem e bem menos do que isso por estrada asfaltada. Durante essa troca de caiaques a Team Seagate recebeu a desagradavel noticia de que tomaria uma punição de 4h (o minimo para ausência de equipamento obrigatorio). Eles esqueceram o SPOT, GPS que garante o monitoramento e segurança das equipes, em sua ultima transição. Nesse momento de comunicar a punição havia jornalistas e a equipe de filmagem do evento, que certamente vai mostrar a tensão que ficou entre a equipe e o organizador do evento.
Ainda sobre punições, a Buff Termocool recebeu 2 horas por perder um dos coletes de prova. A Tecnu Extreme - time do brazuca Marco Anselem - que vinha atrás, o encontrou e devolveu na transicao seguinte. Já a Oskalunga não teve problemas com a questão da barraca. Não carregavam as hastes metálicas, mas explicaram que a barraca era montada com os trekking poles que carregavam.
A Seagate chegou em Tullah, final da canoagem, na quinta 3/11 as 18h19 (horário local). Fizeram a transição no lado de fora do ginásio e pareciam ignorar o frio que fazia a despeito de estarem totalmente encharcados. Em menos de 45 minutos sairam para 106 km de MTB, que concluiram em cerca de 10h. A Team Silva (Suécia) chegou mais de 1h30 depois e também saiu em menos de 50 minutos. Animados com a punição da Seagate, tiveram que enfrentar um problema: ao abrirem as caixas de bike, um dos câmbios traseiros estava quebrado. Rapidamente improvisaram uma "barra forte", bike de uma unica marcha e sairam. Nesse momento, mesmo atrás, lideravam a prova.
Enquanto esses times fizeram os primeiros 200 Km em menos de 36 horas, a Oskalunga chegou na manhã de sexta, às 10h09 (horário local), portanto 13 horas atrás dos lideres em apenas dois dias. Apesar do sono acumulado estampado no rosto, estavam animados e aquecidos, já que fizeram a canoagem toda durante o dia. Mas as recordações do frio e das dificuldades no trekking foram assustadoras. Muitos times disseram que foi o trecho mais dificil de suas carreiras e Barbara Bomfim confirmou dizendo: "a prova está muito técnica. Fora o terreno e o clima, fora tudo, a orientação está casca. Não tá pra criança, não!"
A equipe brasiliense fez uma transição de 58 minutos, média da maioria dos times que não dormiram nessa AT, e sairam para os 106 km de MTB dispostos a dormirem somente quando chegarem no final.
Diogo Malagon deu o trato nas bikes enquanto removia algumas sangue-sugas do corpo. Aparentemente só ele "deu o sangue" até agora! A expectativa do navegador Caco Fonseca era de fazer a pernada em 10h, mesmo tempo da Seagate, mas fazendo (neste momento que estou escrevendo) quase tudo de dia. Segundo ele, "Vamos tentar fazer entre 10 e 11h para dormir 6h na transição e partir para o trecho de trekking mais dificil da prova perto das 4h da manhã. Quero fazer o máximo possivel desse trecho de dia pois a navegação lá é complicada, com mapas de 1:20.000 e PCs escondidos em dunas e dentro da mata."
Melhor sorte está tendo a Tecnu Extreme, que saiu de Tullah às 6h23 e até a última visualização possível pelo SPOT, já estavam bem próximos do Midcamp.
Os primeiros times já estão nesse trecho de trekking remoto. A liderançaa agora está com a Team Silva, seguidos da Thule, ambos suecos. Ainda que fisicamente esteja atrás da Seagate, lideram por conta da punição, mas os neozelandeses certamente vão lutar para chegar na frente de todos e, quem sabe, com mais de 4 horas de vantagem.
O SPOT vinha funcionando razoavelmente bem, mas nesta sexta-feira muitos times deixaram de ser trackeados. Nesse momento é impossivel saber aonde estão muitos dos times que deixaram Tullah nessa manhã, como é o caso da Oskalunga. A prova já está muito espalhada e pelo menos 1/3 das equipes nem sequer começou a remada que leva até Tullah. Será um desafio logistico muito grande para a organização cuidar de um contigente tão grande de equipes nos próximos 7 dias, já que não há cortes no percurso.
Hoje está fazendo um lindo céu azul e tempo quente aqui em Tullah. Pela primeira vez, nesses 4 dias que estou aqui na Tasmania, passei o dia só de camiseta (da seleção brasileira, é claro!). Muita gente conhece a Oskalunga e perguntam sobre a razão do nome. Vamos torcer para que esse dia quase tropical os ajude a concluir a bike dentro do tempo que imaginaram.
Sem dúvida, após o Midcamp as coisas vão piorar. Craig Bycroft, diretor da prova, afirmou no brieffing que nesse ponto é onde termina a corrida e começa a expedição. Será muito importante para a Oskalunga fazer esses 65 km de trekking pela costeira de dia, já que o tempo previsto pela organização é de 15 a 33 horas em um trecho remoto, com muita influência de ventos e mares e bem povoado por cobras. Durante o levantamento do percurso foram avistadas 9 delas em um só dia, principalmente no final do trecho. Um novo recorde, segundo o race book !!
UPDATE - 19h de sexta (horário local)
Algo parece estar dando errado para a Oskalunga. Apesar de terem saido daqui de Tullah com uma hora de vantagem para o time tcheco Adidas Opavanet, a equipe ainda esta no meio da caminho até a cidade de Zehaan, enquanto os tchecos já chegaram por lá. Isso significa cerca de 40 km de intervalo entre os times.
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Alexandre Carrijo é corredor de aventura e organizador do Brasilia Multisport - bms.vivabrasilia.com. Ele está na Tasmânia acompanhando o AR World Championship 2011. |
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