Era para ser de 150 e debaixo de chuva! - Começando nas corridas com uma Expedição

Por Camila Akemi - 21.Oct.2011

Corrida de aventura para mim até um tempo atrás era algo que ouvia dizer ou que simplesmente assisti alguma vez passar na tv nesses programas de esportes...

Tudo começou no final de agosto desse ano, precisamente numa quinta-feira a tarde, quando o Eliseu  me chamou na sala dele para conversar. Chefe chamando na sala! Xiii só pode ser "bomba". Rsrsrs

Bom... foi dessa "conversa" que veio a proposta um tanto quanto "indecente":  "Precisamos de uma mulher para montar o quarteto misto para o Haka Expedition e pensamos em convidar você!" Lembro que olhei bem pra cara dele e sorri (de nervoso) : "Você está falando sério?!' E ele estava...

Lagartos Largados

Comecei  a entender sobre corrida de aventura depois que conheci o Eliseu e Aurelio e fui me aprofundando mais no assunto quando comecei a trabalhar diretamente com eles:  No dia-a-dia de trabalho acompanhava os preparativos, as historias pós provas, resultados, e confesso que isso de alguma forma me fascinava...

Mas voltando à sala do Eliseu, naquela tarde conversamos a respeito da prova, como seria, quando seria, o que seria... Conclusão: Expedition era nova para TODOS e se eu topasse, teria por volta de 1 mês e meio para me preparar. No final dessa conversa, apesar de ter saído da sala mais fascinada e curiosa, não dei a palavra final: falei que iria pensar a respeito, pois eu tinha ciência da necessidade de preparo físico e a responsabilidade.

Minha palavra final não demorou, creio eu, nem... 1 hora. Ao sentar na minha mesa de volta, ao invés de trabalhar, fiquei pensando no assunto... enquanto pensava recebia do Aurelio através do msn, o link do site do HAKA, fotos de divulgação do Expedition... Foi o que faltava para eu me "deixar levar"... e dizer SIM!

Imediatemente comecei a procurar uma academia para fazer o "milagre em 45 dias", marquei um cardio por "precaução" com direito a "revisão completa".

E lá estava eu, uma semana depois, matriculada na academia:  Natação e Musculação no início e mais minhas práticas de Yôga para complementar.  E alguns dias depois após resultado do check up,  adicionei  as aulas de corrida e spinning. Claro que precisei ser bem comedida nos treinos: sabia que não iria virar nenhuma "Ironwoman"em tão pouco tempo, além disso não poderia correr o risco de lesão!

Parte do treinamento resolvido,  comecei a minha "maratona" de compras e empréstimos de equipamentos e items obrigatórios para a corrida: Tenis apropriado, lanternas para a bike e para o capacete, corta-vento, mochila, colete salva- vidas, etc etc etc...

Como nada nessa vida é fácil, meus "desafios" começaram antes da prova: Os  primeiros itens comprados foram as lanternas, que nunca chegaram devido a greve dos correio; o tenis veio após muita pesquisa de preço, tentativas frustradas de compra por internet e visitas em outlets .

O quarteto completo conseguiu se reunir para treinar apenas 2 vezes em Ribeirão Pires. Montamos um mini circuito: MTB 30K, Corrida 5K e 5K remo para que eu pudesse me familiarizar e sentir a transição de uma modalidade para outra e para quem havia recém saído de uma gripe, até que não foi tão ruim assim.

E as emoções e desafios pré-prova continuaram: a suspensão da bike quebrou e levei uma bela queda de bike ladeira abaixo... faltando poucas semanas para prova.

O problema da suspensão foi "milagrosamente" sanada a tempo. Mas posso dizer que a sensação de incerteza  de não ter a bike pronta até o dia da prova foi tamanha: na maioria das bicicletarias que ligava ouvia a mesma frase: "Não garantimos peça de reposição imediata".

Dificuldades superadas, a semana  que antecedeu a prova foi de  repouso "total". Apenas acertamos os últimos detalhes com expectativa de pegar o mapa. Até então eu não havia sentido aquele friozinho no estomago.

MAS na quinta-feira, dia do briefing na Pedal Urbano... Quando  peguei aquele mapa e começamos a ler o Race book, somado com Briefing do Leo... aí sim minha barriga gelou... e minha ficha caiu: "Estou dentro e agora não tem volta!"

Eu e minha "dupla" do quarteto, o Eliseu, decidimos chegar na sexta-feira à noite, afim de "reconhecer" o terreno da largada, assim como ter uma noite mais longa e tranquila de sono.

Na procionalidade de "2h" para sair de SP e "1h" para chegar em Mogi, a viagem estava  tranquila até que ouço algo "metálico" batendo na lataria do carro.  Logo nossas atenções foram diretamente para o teto do carro: ao abrir o teto solar e averiguar as bikes, vejo que a MINHA bike balança mais que o normal.

Foi o tempo de avisar o Eliseu para parar o carro e ele estacionar; As porcas que prendiam a parte da frente do rack da bike terminaram de soltar e praticamente seguramos a bike no braço. Nossa sorte, haviamos estacionado próximo a uma mecânica onde conseguimos ferramentas apropriadas para prender novamente o rack.

Enfim um pouco de tensão e emoção antes da prova não faz mal a ninguém!

Chegado o grande dia, o quarteto se completou na largada. Caixas entregues, checagem dos equipamentos obrigatórios, ultimos ajustes,  algumas fotos para a "posteridade".

08:00! Largamos!  O frio na barriga e a ansiedade  foram passando conforme ia me afastando do pórtico.  E a cada pedalada, dentro das minhas limitações, a cada subida lamacenta, derrapagem, pude perceber que não seria lá tão fácil... MAS meu objetivo era TERMINAR a prova a qualquer custo e não seria uma chuvinha ou uma subida interminável cheia de lama que iria me fazer desistir assim tão fácil!

Devagar e sempre, chegamos ao PC 3: obrigada meninos pela paciência! Enquanto o Jr. e o Eliseu corriam para o PC4, eu e o Aurelio,  lavamos as bikes e aproveitamos para nos "abastecer".  Com o retorno dos meninos iniciamos umas das partes mais duras, o remo. Como todas as equipes, enfrentamos  o vento contra, chuva, frio, hipotermia, caimbras, dores...

E após 3 hs de remadas intermináveis, chegamos ao "bendito" PC5, cansados, molhados e com muito frio!  A recuperação não foi fácil, apesar da troca de roupa, meias, luvas e tenis molhados em uma espécie de varalzinho improvisado próximo a churrasqueira da casa... o frio não passava. O Jr que havia sofrido muito com o frio e caimbras no remo,  nessa altura tinha pedido para sair.

Já sabiamos que seria quase impossivel chegar ao PC 9 antes do corte, mas resolvemos continuar. Para "sorte" ou azar do Jr, não havia apoio da organização no PC5 para "resgatá-lo", logo ele teria que pedalar até o PC6. E foi assim que nosso quarto "elemento", após algumas pedaladas de "sacrificio" para chegar ao PC6, recobrou o espírito aventureiro e decidiu continuar!

Nessa altura havia se juntado a nós um quinto "elemento", o Marcos, que estava fazendo a prova na categoria Solo. Chegamos ao PC8 quase ao amanhecer,  após  passar pelo push bike infernal, algumas quedas e derrapagens no meio do caminho, uma sensação que por alguns instantes pairou no ar: Iriamos continuar?

Sim! Entramos na Serra mesmo sabendo que éramos os últimos a entrar na trilha no planalto. Encontramos algumas equipes retornando para o PC8 após horas a fio tentando achar o caminho de descida. Todas nos aconselharam não entrar ... mas nessa altura, faltando apenas 2 PCs, tinhamos apenas em mente cruzar a chegada.

Tive uma luta muito dura nessa parte em particular, o sono batia muito forte, inclusive na estrada para acessar a trilha estava dormindo em pé no acostamento, os olhos insistiam em fechar e eu insistia em andar...
Entramos na trilha já havia amanhecido, tinhamos uma visão mais ampla, com mais opções de referencias, porém hoje acreditamos que esse foi o nosso maior erro. Pelos relatos, percebemos que a maioria das equipes que desceram se basearam no rio, pois estas desceram no escuro.  Como para nós estava claro, tomamos como referencia a linha de transmissão que acabou nos afastando da trilha correta uns 150m.
Quando percebemos que estavamos errado, ainda tentamos "rasgar o mato" por uma ribanceira para encontrar a trilha certa, mas a "aventura" tinha começado a se tornar perigosa devido ao cansaço, chuva e o terreno por si próprio. Foi ali que a decisão de desistir foi tomada...

Hoje passados alguns dias da prova e baixado a euforia, as minhas impressões continuam as mesmas: mesmo não cruzando a linha de chegada, sinto que a minha missão foi cumprida: Me sinto feliz de não só ter superado a lama, o frio, o sono, o cansaço físico mas também me superado. Tinha uma certa noção do que poderia enfrentar mas desconhecia como meu corpo e minha mente corresponderiam, qual seria o meu limite.

Esta foi a minha primeira corrida de aventura e não poderia ter sido melhor:  150Km e embaixo de chuva... ótima prova para concluir se AMA ou ODEIA... e com certeza fico com a primeira opção!
Haka Expedition 2012... me aguarde! ;)

Camila Akemi
Lagartos Largados SEJEL Ribeirão Pires

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