O despertador toca às 5:00 da manhã de sábado, dia 18 de dezembro. Chegara o dia D. Dia de subir numa bicicleta após muito, mas muito tempo e remar desde... desde sempre. O trekking era a modalidade que eu me sentia mais à vontade por ter que andar um pouco nas corridas de aventura para fotografar os atletas, e mesmo assim, por curtas distâncias.
Não estava tão preocupado com a prova que teria apenas 20 quilômetros, mas sabia das minhas limitações.
Tudo começou há muito tempo. Sempre estive nos eventos fotografando e vez ou outra recebia um convite para correr. Nunca fui atleta, nem ao menos faço treinos – sou praticamente um sedentário – e por isso sempre recusei os convites.
A intimação para participar da corrida de confraternização VI Mundial Selva, uma corrida de confraternização realizada anualmente pela assessoria esportiva, aconteceu desde o começo do ano mas o ultimato chegou na semana anterior à largada, com uma mensagem simples e direta pelo MSN: “CPF?”. Era Lilian Araújo, atleta da equipe Guaranis, pedindo meus dados para fazer a nossa inscrição como dupla.
Depois de alguma insistência aceitei o convite, mas até agora não sei quem não estava raciocinando direito, a Lilian por ter me convidado ou eu por ter aceitado.
A última prova que participei foi no longínquo ano de 2000 e ela fazia parte do Circuito Brasileiro de Corrida de Aventura, organizado por Alexandre Freitas. O nome da etapa era Juquiá 2000. Juquiá e corrida de aventura lembra quem? Isso mesmo, Lucas Gerônimo era um dos diretores da prova que tinha duração de 24 horas para os primeiros colocados.
Na semana pré-Mundial Selva choveu bastante e pelo previsto, o dia da prova não seria diferente e isso me lembrou bastante daquela corrida que abandonei antes da primeira transição. Mas o dia foi de muito calor, com nuvens negras no horizonte e trovões, mas sem chuvas.
Além da Lilian na dupla Guaranis/Adventuremag, tive como companhia os atletas Marco Antonio, marido da Lilian, e meu irmão Sidney Togumi. Ambos voltaram há poucos dias da Argentina onde participaram e completaram os 150 quilômetros de trekking e orientação do La Misión.
No meio da corrida nosso grupo aumentou e passamos a ter a companhia de Dario Forghieri e sua dupla Sharon, uma boneca de pano que ele carregou por toda a prova. Sua verdadeira dupla deu o cano na noite anterior e sem tempo de conseguir outra pessoa, largou sozinho.
Minha prova foi como eu esperava . Falta de fôlego, falta de pernas, falta de braço, câimbras. Levamos mais de 7 horas para completar o percurso de 20 quilômetros, 3 horas a mais que os primeiros colocados, e se não fosse a ajuda dos companheiros de equipe, o sofrimento teria sido muito maior. Acredito que chegaria no final mas com certeza demoraria muito mais.
Acho que uma das piores partes foi quando, ao passar pelo arame farpado de uma cerca, a perna se contraiu e um alien tentou sair da minha panturrilha direita.
Grande parte da seção de mountain bike foi feita empurrando a bicicleta morro acima ou às margens da represa. Não tenho certeza se o trecho fosse todo pedalável , eu me sairia melhor ou pior.
Quase no final da corrida, chegando em uma das únicas parte pedaláveis do mountain bike, Lilian torceu o pé, mas mesmo assim conseguiu chegar de volta à pousada pedalando. Para finalizar a prova tínhamos uma pista de orientação com 10 prismas e 3 quilômetros. Ela com o pé torcido e minhas pernas fracas e com câimbras... eu não tinha desculpa melhor para encerrar a corrida por ali mesmo.
Não sei em qual classificação ficamos mas meu objetivo foi alcançado. Além da conclusão óbvia (e que eu e todo mundo sabia) que preciso treinar para fazer uma prova decente, participar desta corrida me ajudou a enxergar novamente as necessidades e as dificuldades que um iniciante no esporte tem atualmente.
Acho que o único equipamento próprio que utilizei foi o tênis. O resto foi emprestado: capacete, bicicleta, mochila, etc.
Algumas pessoas me perguntavam por que eu decidira correr agora, depois de tanto tempo. E eu pensava, “Por que não?”. Apesar de saber que daria trabalho para a equipe e talvez para a organização, sair da zona de conforto de vez em quando é muito bom para reciclar as idéias e ser obrigado a tomar decisões diferentes do dia-a-dia.
Além disso, participar de uma corrida de aventura novamente depois de tanto tempo me fez relembrar porque as pessoas se apaixonam por esse esporte e porque há 10 anos decidi montar o Adventuremag.
Agradecimentos à família Selva pela oportunidade de participar da prova. Geraldo, Caco, Camila, Diogo, muito obrigado pelo empréstimo de equipamentos; aos meus companheiros de equipe Lilian Araújo, Marco Antonio e Sidney Togumi pela paciência com o ritmo de tartaruga e pelo trabalho de sherpa; ao Dario Forghieri, pela ajuda a sair do banho forçado na represa.
Wladimir Togumi
Guaranis / Adventuremag
Dario Forghieri, Wladimir Togumi, Marco Antonio, Lilian Araújo, Sidney Togumi
© Sergio Ricardo da Ponte
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