“Isso é coisa de maluco meu filho!”. Essa frase eu ouvi no banheiro do aeroporto de Maceió, na volta pra casa quando entrei pra lavar o rosto e um senhor me perguntou sobre o troféu que eu estava nas mãos e expliquei tudo pra ele. Por diversas vezes já tinha ouvido essa frase e sempre pensei cá com meus botões “Maluco nada, isso é uma filosofia de vida”. Mas tenho que confessar que depois dessa prova, passei a dar mais crédito aos autores desta.
A Millennium D'Aventura Makaira desta vez correria com sua força máxima, Naru, Leo e este que vos escreve, Gaia. Para completar o time, chamamos a experiente atleta da terra, Debora, com vários títulos e vitórias no currículo.
Com os mapas em mãos, percebemos que o grande diferencial desta prova seria a navegação, pois havia diversos caminhos e também o relevo da região era bastante montanhoso, o que exigiria um preparo físico muito bom dos atletas.
Rominho resolveu fazer um prólogo bem interessante para promover ainda mais sua corrida, cada atleta seguiria um carro da organização e pegaria ao final desta corrida uma fita e voltaria para o pórtico de largada, onde, após reunida novamente a equipe, partiriam em busca do PC 1 de bike.
Resolvemos não sentar a bota neste comecinho, mas ir na maciota. Não sei como foi o percurso dos meus companheiros, mas o meu foi torturante. Uma subida enorme de paralelepípedo e eu de sapatilha de bike escorregando feito bobo. Cheguei logo depois de Leo. Depois veio Narinho e por fim, nossa guerreira Debora.
Partimos tranqüilos de bike e bastante focados na navegação. Ultrapassamos algumas equipes e logo nos vimos num bolo delas, todas procurando a melhor forma de escalaminhar uma serra com a bike nas costas. Narinho achou o caminho e iniciamos na frente das equipes a subida. Era mais ou menos uma hora da manhã e foi bonito olhar pra baixo do morro e ver aquela procissão de luzes serpenteando. Encontramos a trilha no alto da serra e partimos para o PC 1 e o batemos em primeiro.
Pronto. Todo nosso discurso de “não vamos andar na frente no começo”, “esse negocio de balizar caminho pros outros é bobagem”, foi por água abaixo. Iniciamos um ritmo frenético na tentativa de abrir das demais equipes e logo nos deparamos com uma subida gigantesca, antes de chegar ao PC 2. Era uma serra que circundava a cidade de Marimbondo, ponto central da prova e que por várias vezes cruzamos. Subimos a serra e batemos o PC 2 novamente em primeiro, mas com nossos rivais nos calcanhares.
Na pressa, demos uma goiabadazinha e eles encostaram. Uma trilha bem difícil de se achar e muito técnica, descemos rumo ao PC 3 juntos com mais duas equipes, a Millennium Gantuá e a Extreme. Batemos o PC 3 juntos e resolvemos dar uma paradinha de 5 minutos pra recarregar o tanque. Comemos sanduiches e partimos novamente juntos para o PC 4.
Na subida imprimimos um forte ritmo e conseguimos abrir uma pequena vantagem das demais equipes. O PC 4 ficava literalmente num buraco, numa descida insana, o único problema era que o PC era bate e volta, ou seja, saber que teríamos que subir tudo de novo doía no coração.
PC 4 batido, era uma placa presa a um poste, rumamos para PC 5 que ficava na cidade de Marimbondo (ói ela outra vez). Para chegar nele, fizemos um downhill alucinante. Segundo os odômetros chegamos a setenta quilômetros por hora. Bastante divertido, porém minha suspensão começava a dar sinais de que não agüentaria e eu já estava ate imaginando como seria o gosto do chão.
Batemos o PC 5, largamos as bikes e partimos para um trekking bem duro, com a Gantuá nos nossos calcanhares. Imprimimos um ritmo muito forte, correndo mesmo, até chegar no sopé da serra. Navegação precisa, iniciamos a subida por uma trilha e logo alcançamos o PC 6.
Para o PC 7, azimutanos e resolvemos não descer a serra, mas seguir no rumo indicado pela bússola, sempre pelo alto. Foi uma decisão acertada, pois tinha uma trilha que levava diretamente para o PC 8 e não estava mapeada. De olho na bússola e no altímetro, batemos o oito e rumamos forte novamente no sentido de Marimbondo que ficava no vale, para pegarmos nossas bikes.
Resolvemos ficar o máximo possível pedalando no asfalto e só entrar para o estradão de terra na última das entradas possíveis. Uma serra gigantesca nos separava do PC 9. Uma subida torturante debaixo de um sol escaldante minou um pouco nossas energias e tivemos que dar uma pequena paradinha no alto da serra pra nos alimentarmos. Depois de vencida a serra, fizemos um outro downhill alucinante. Acho que foi o melhor trecho de bike que já encarei em uma corrida de aventura, até uma fazenda chamada Camarão, nossa referência de ataque ao PC 9.
AHHH PC 9, como foi duro chegar até ele. No sopé de mais uma serra, analisamos o mapa e não acreditamos que a subida era aquela que se vislumbrava à nossa frente. Leo começou a duvidar e querer procurar outra. Eu e Naru batemos pé firme, pois todas as referências de relevo, a fazenda, tudo apontava para aquela fatídica subida. Iniciamos a subida descomunal empurrando as bikes, numa trilha que mal cabia seu pé, quem dirá uma bike. O sol já estava forte e por vezes dávamos uma paradinha na sombra pra recompor o fôlego. Subimos... subimos... subimos e nunca que chegava. Até eu que, momentos atrás, tinha total convicção de que aquela era a subida correta, passei a desconfiar que estávamos errados. Chegamos no topo, sentamos no pé de uma árvore, comemos um pouco e Naru apontou a trilha a ser seguida, a trilha a não ser seguida e o rumo do PC 9. Tudo batia e meu coração foi inundado de um alívio sem tamanho, pois ficava só imaginando quão devastador seria pra uma equipe um erro dessa proporção.
Alcançamos o PC 9 e resolvemos mudar o caminho previamente escolhido e seguir em frente. Outro downhill alucinante e duas baixas importantes, o meu mapa e o de Leo ficaram pelo caminho.
O PC 10 parecia um oásis. Uma barragem com suas águas geladinhas e uma missão de canoagem a ser cumprida por cada integrante, um de cada vez, o que nos proporcionou raros momentos de descanso e descontração. Cumprimos toda a missão em pouco menos de uma hora e meia e para nossa surpresa, nenhuma equipe havia chegado. “Pau que bate em Chico, bate em Francisco”.
Energizados com o banho na barragem, iniciamos o pedal rumo ao PC 11 debaixo de uma lua sinistra. O calor era insuportável, mas nossa determinação só aumentava a cada PC alcançado. Só para variar um pouquinho, mais uma enorme serra nos separava do PC 11. Uma subida insana carregando as bikes morro acima e uma descida extremamente técnica, cheia de pedregulhos. Alcançamos o PC 11 e fizemos um pit stop na casa de uma senhora que nos colocou à sua mesa e nos serviu um delicioso macarrão, feijão, arroz e bife. É impressionante a simplicidade e generosidade dessas pessoas. Com o bucho cheio, partimos mais alegres, porém preocupados, pois faltavam menos de duas horas para o sol se por, o que complicaria e muito a navegação naquelas intrincadas trilhas.
Chegamos no sopé de mais uma serra. Desculpe caro leitor, pela enorme repetição, serra, sopé de serra, mas a prova foi só isso, subidas e mais subidas. Pra variar, o PC 12 estava no alto desta serra e subi-la foi casca, um empurra-bike miserável. Porém, quando batemos o PC 12, fomos agraciados com um belíssimo por do sol avistado do alto da serra. Descemos um trecho difícil e logo alcançamos o PC 13, ainda com um restinho de sol e soubemos que a missão da natação havia sido cancelada.
Para chegar no PC 14, teríamos que descer uma serra e novamente passar pela cidade de Marimbondo, onde fizemos mais um pit stop, o último. Comemos sanduíches em uma padaria e eu pude comprar um remédio pra azia. Tudo pronto, partimos por um asfaltão de 16 km mais ou menos até o 14, onde largamos as bikes e iniciamos o trekking final.
O PC 15 era um virtual, uma escola, apelidada de escola da serra. Uma verdadeira maldade que fizeram com as criancinhas da região, colocar uma escola no alto da serra. Tome-lhe subida e mais subida. Até o 15, a navegação foi tranqüila. Resolvemos tirar um cochilo de 15 minutos para recompor as energias.
O caminho para o PC 16, virtual e último da prova, era tortuoso e exigiu muita atenção na navegação. Um pouco de indecisão no começo, porém nos referenciamos por um lago e percebemos que estávamos na rota certa e o ânimo voltou. Corríamos no plano e nas descidas e andávamos nas subidas até alcançar o PC 16, outra escola. Mais um cochilo de 15 minutos, partimos para a chegada bastante apreensivos com a navegação e checando a posição de 500 em 500 metros.
A todo momento olhávamos pra trás na tentativa de enxergar lanternas perseguidoras, pois não sabíamos que a prova havia sido cortada para as demais equipes no PC 12 e que nossa frente era bem grande. Se soubéssemos disso, teríamos descansado um pouquinho mais.
Uma descida gigante, começamos a reclamar e percebi o quanto já estávamos ranzinzas e brinquei: “Poxa, a gente está muito chato. Reclama da subida. Agora está reclamando da descida.” Só pra descontrair.
Chegamos em Tanque D’Arca exatamente a uma da manhã do domingo e completamos a prova em exatas 25 horas. Felizes, porém extremamente cansados, só pensávamos em umas boas horas de sono. Se alguém me perguntasse naquele momento qual o sentimento mais marcante eu responderia com toda certeza: ALÍVIO. Alívio por ter acabado uma das provas mais duras que eu já corri e este sentimento era de toda a equipe.
Aliás, chamar a Millennium D'Aventura Makaira de equipe é pouco, fomos uma verdadeira família extremamente harmoniosa e que em nenhum momento se deixou abalar pelas adversidades da prova.
Gostaria de agradecer à nossa guerreira Debora que aceitou correr conosco e que com certeza trouxe muito aprendizado para todos nós, pois sua experiência é enorme. À galera do exército que nos deu uma ajuda muito grande nos pegando no aeroporto e nos levando de volta e também à organização da prova, Rominho, Cainha e sua turma por ter nos proporcionados momentos duros, belos, porém de grande aprendizado para toda a equipe. Superar todas essa adversidades exigiu o máximo de todos nós, porém a recompensa de ter cruzado a linha de chegada é maior que tudo isso.
E claro, um agradecimento todo especial à MILLENNIUM INORGANIC CHEMICALS, empresa vanguardista que apostou na nossa equipe e está nos patrocinando este ano.
Encerro com o nosso grito de guerra: MAKAIIIIIIIIIIIRA, SOCA A BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOTA!
Gustavo Chagas - Gaia
Millennium D'Aventura Makaira
www.makaira.com.br
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