Entrevista com Robin Jundkins, organizador do Speights Coast to Coast

Por Redação - 11.May.2009

Mãe (e pai) de todas as corridas de aventura do mundo, o Coast to Coast é um evento multi-esportivo realizado desde 1983 na Nova Zelândia. Robin Jundkins foi a pessoa que visualizou e criou esse desafio que leva os participantes de uma costa a outra do país cruzando rios, trilhas e montanhas nas modalidades de ciclismo, canoagem e corrida. O esporte chegou ao Brasil há alguns anos, primeiro com o Multisport Brasil, realizado em Florianópolis, e mais recentemente o Brasilia Multisport, que acontece na cidade que dá nome ao evento.

Editado (12/05/09 - 17h15) - De acordo com informações recebidas, a primeira corrida Multisport aconteceu em Brasilia em 2006. Assim que a equipe Oskalunga voltou do mundial de Corrida de Aventura 2005, Frederico Gall organizou a prova Adrenavida Multisport, que teve 6km de canoagem, 9km de corrida e 20km de Mountain Biking.

Após esses anos todos de sucesso no seu país de origem, Jundkins quer tornar o Multisport um evento mundial com um formato parecido com o XTerra World Tour. No Brasil, a seletiva ficará a cargo do Brasilia Multisports, que teve sua primeira edição realizada no ano passado (2008).

Leia abaixo a entrevista com Robin Junkdins:

Como os eventos Multisports estão apenas começando no Brasil, gostaria que falasse um pouco do histórico do evento e da sua experiência quando criou o Coast to Coast?
Tive a idéia em 1980 e então realizei o primeiro evento em 1983. Minha experiência era como instrutor de canoagem, wind-surfing e vela, no verão, e diretor de uma escola de esqui no Cardrona Ski Field, no inverno. Portanto minha experiência era em atividades esportivas mas trabalhei também na área de marketing de grandes empresas multinacionais. A combinação de esportes e marketing me colocou nisso.


Robin Jundkins, criador e organizador do Speight's Coast to Coast
© Alexandre Carrijo

Esse percurso em particular eu montei na metade de 1982. Um grupo fez o primeiro teste em dezembro do mesmo ano e apenas dois terminaram, eu e uma pessoa da cidade de Nelson. Percebi que era um percurso fantástico e trabalhamos em cima dele. De qualquer maneira eu também experimentei outros 3 percursos diferentes que acabaram não sendo bons o suficiente, e o percurso atual não mudou desde então. É o mesmo percurso, a mesma distância e parece funcionar muito bem.

Voltando àquela época, a Nova Zelândia estava preparada para um evento deste tipo?
Sim, porque eu já organizava eventos de aventura desde 1980 e então montei o Speight’s Coast to Coast. Eu organizava mais de meia dúzia de competições e as pessoas estavam naturalmente inclinadas a ver essas coisas como não tão extremas. Quer dizer, alguns dos meus eventos podem ser muito, muito difíceis, mas esse era de uma classe de grandes eventos de turismo. Não tem uma seção de corrida difícil, apenas muito longa; não tem uma seção de canoagem difícil, apenas muito longa; e uma seção de pedal, que pode ser muito perigosa por acontecer em estradas abertas. A chave de tudo isso é que a prova vai de uma costa a outra da Nova Zelândia e cada disciplina - ciclismo, mountain running e canoagem - leva a mesma quantidade de tempo. Se você leva 24 horas para fazer o percurso, você faz 8 horas de corrida, 8 horas de canoagem e 8 horas de ciclismo e é assim que a coisa funciona. E a regra serve também para Steve Gurney, que faz a prova em 10 horas, 10 horas e meia: 1/3, 1/3 e 1/3.

Esse é o segredo de um grande evento! Você deve ter uma ótima largada, uma ótima chegada e as disciplinas devem ser calculadas em tempo. Não em distância, mas em tempo! Muitos organizadores de eventos não entendem os princípios básicos. A questão é o tempo e não a distância.

Você ficou contente com a primeira prova em 1983, quando teve 79 atletas?
Sim, porque eu esperava apenas 30 participantes! Portanto tivemos lucro já no primeiro ano. A verdade é que esse evento nunca deu prejuízo, sempre teve lucro. É um evento fantástico! Durante esta semana (do evento) nós geramos NZ$ 8 milhões em dinheiro para as economias de Westland e Candbury e durante os 26 anos do evento, geramos mais de NZ$ 150 milhões para essas comunidades.
É um evento muito, muito lucrativo e não tem custo muito alto. Não construímos nada! Não há infraestrutura necessária, não precisamos de estádios, não precisamos de nada. E quando a corrida termina as únicas coisas que você verá no percurso inteiro serão as duas hastes (de madeira, utilizadas para prender o banner na largada) em Kumara Beach. É isso, nada mais. Você nunca saberá que estivemos por lá.

Tudo isso deve ser relacionado com a atmosfera da Nova Zelândia. Ao chegar aqui, as pessoas vêem belos rios e montanhas e o espírito e envolvimento dos Neozelandeses em sua terra.
Absolutamente! A Nova Zelândia é um parque de diversões de aventura. Não há quase ninguém, apenas 4 milhões de pessoas vivem aqui. Temos uma área equivalente à Inglaterra, Escócia e País de Gales juntas e apenas 4 milhões de pessoas! É tudo selvagem. E você pode beber as águas dos rios e correr para onde quiser. Temos um ótimo sistema de Parques Nacionais que cobre toda a Nova Zelândia e é uma região maravilhosa, tanto no verão quanto no inverno.

Você começou com um evento de dois dias e então, em 1987, teve início o “dia mais longo” que já era referência como Campeonato Mundial. Quando você percebeu que os atletas estavam prontos para o “dia mais longo”?
Bem, por volta de 1986 eu achei que seria possível. Eu o criei em 1987 e uma semana antes da corrida tive um ataque de pânico. Eu achei que algo poderia acontecer e alguém morrer. Então saí para conversar com uma pessoa, que eu sabia que seria a última colocada e que esteve em todas as edições, e disse: “Estou realmente preocupado. Acho que essa prova pode matar alguém”. E ele disse: “Bem, provavelmente essa pessoa seria eu. E eu não ligo para isso! Você não irá cancelar a corrida, eu gastei muito tempo treinando!!!” (risos)

Por cerca de 15 anos você tinha que se qualificar para o evento de 1 dia, tinha que ter participado antes do evento de 2 dias, e há cerca de 6 anos atrás eu tirei essa regra e pensei: qualquer pessoa pode completar. Mas a verdade é que a prova é muito difícil. No ano seguinte tivemos 220 participantes e apenas 115 completaram.

E os estrangeiros?
Temos centenas de participantes estrangeiros na prova. Cerca de 15% dos participantes são de outros países. Eles vêm de todos os lugares. Obviamente também do Brasil, mas este ano o grande contingente veio da Inglaterra, com 44 atletas. É um gasto muito grande! Um deles, na verdade uma família, veio com dois competidores, mas outras nove pessoas vieram para assistir à prova!! Que compromisso é esse e quanto dinheiro gastaram!

As secretarias de turismo estão envolvidas na corrida?
Ocasionalmente temos a Secretaria de Turismo da Nova Zelândia e as prefeituras, mas varia de ano a ano. Você deve ter novas idéias a todo momento e então eu vou até eles e digo: “tenho essa nova idéia. Como posso tê-los envolvidos?”. Mas basicamente é um negócio que eu administro e organizo independentemente.

Você pensa em tornar o Coast to Coast um evento mundial?
Com certeza! Penso em ter provas no Reino Unido – com o mesmo nível do Coast to Coast –, Austrália – com John Jacoby, Brasil – Brasilia Multisport, Escandinávia (Finlândia ou Suécia), Estados Unidos, Canadá e África do Sul. Atletas que são bons no multisport são os sul-africanos, os australianos e os kiwis (neo-zelandeses). Os últimos são muito, muito bons. E então temos os escandinavos e vocês, que possuem experiência devido às corridas de aventura.

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