Relato de um atleta que não correu, mas ganhou!
Chamo assim, porque foi uma experiência fascinante. Ajudar na organização de uma etapa do circuito mais cascudo do Brasil, quando nos referimos a corridas de aventura, a temida Expedição Chauás. E agora ela sai de Botucatu mais temida ainda!
Começou quando a dupla Lucas e Fran me procurou. Vamos para Botucatu em busca do SACI. Mas... você não vai poder correr. Realmente foi um banho de água fria. Trocar o prazer de correr em casa, com minha família e amigos, conhecendo a região ou ajudar na organização da Chauás, fazer amigos, promover sua cidade, além do que, aprender com os pioneiros. Mas que na hora que o Lucas tocou a buzina eu queria sair correndo junto, ah queria!
Realmente o Lucas tem uma visão de mapa incrível. Ele olha a paisagem, o céu, sente o cheiro do ar, põe a mão no queixo (com aquele olhar de cachorro perdido) e fala: Meu, os atletas vão pirar de descer este barranco e rasgar este mato!!!
E num piscar de olhos a prova estava montada. Nos lugares que treino todo final de semana. Ficava só imaginando os atletas passando por ali. O que iriam sentir?
Não teve chuva, não teve enchente, não teve mangue, não teve fogo, mas teve febre amarela. Se não tivesse nada incrível assim, o padrão Chauás de qualidade não seria mantido. Enfim! Vacinação pra todo mundo antes da largada.
E lá fomos nós. Debaixo do pórtico que ficava debaixo da catedral. A famosa buzina “acorda vagabundo” e partiam para 105 Km ou 45 Km de pura emoção e adrenalina. Lindo ver a família Chauás passar em frente da minha casa. Esse foi meu troféu.
A prova curta foi desenhada de maneira brilhante dentro da prova longa, o que proporcionava aos atletas permanecerem juntos por um longo trecho. Após descerem a Cuesta, iniciaram um Canyoning de 5 Km com lindas e enormes cachoeiras em busca das bikes no PC 3. Foi show ver uns carinhas tentando cortar por lugares que eu sabia que era mais desgastante apesar de mais curto. Só risadas.
Com as bikes, era pedalar pelas cristas da Cuesta até botar para baixo numa bela pirambeira. O PC 6 foi colocado no início da descida com dois propósitos: fazer os atletas apreciarem a vista e alertá-los sobre a descida. Mesmo assim para alguns não deu tempo e um atleta solo passou reto numa curva a 10 metros do PC estourando a roda da frente e forçando-o abandonar a prova.
No PC 7 a galera deixava a bike e partia para o ataque às Três Pedras, que formam os pés do “Gigante Deitado”. Com uma navegação em alça tendo de prosseguir dando as costas para o PC confundiu alguns corredores.
Após pegar a bike, uma subida dura da Serra dos Prado aguardava a todos, com apetite de não deixar ninguém em cima da bike. Toca empurrar morro acima. Chegando no topo, era encontrar a descida pela Serra do Limão, que tinha muita pedra e valas enormes formadas por motoqueiros na trilha, mas que formava um single-trek show de bola.
Já no PC 11, alguns atletas que passaram ali puderam apreciar um delicioso churrasquinho. Realmente o cheirinho deixava alguns atordoados. Fiquei por ali até amanhecer e aguardar nosso amigo Euder, o advogado aventureiro, fechar a trilha. O churrasco foi uma Operação de Resgate ao Atleta Euder. Ali após umas cervejas e churrasco, queria ajudar os atletas cansados na navegação, mas não podia porque ali eu era organização. A Ana Silvia tinha que ficar chamando minha atenção toda hora que me via com um mapa na mão.
Dali após um bom pedal, chegavam à Usina Indiana, onde deveriam remar por 5 Km. É, mas 15 dias sem chuva, transformou o pequeno riacho em um córrego. Então o objetivo do trecho era levar o barco de um ponto ao outro carregando. Coitados dos atletas da categoria solo. Ali até a 3a geração do Lucas foi crucificada.
Bom, para finalizar era só subir mais uma vez a Cuesta para finalizar a prova. Uma Lua cheia entre as nuvens mostrava a bela paisagem do vale da Bocaina e o Morro do Peru.
Chegada novamente na Catedral. Maravilha. Muitas histórias. Atletas alucinados. Objetivos alcançados.
Valeu Lucas e Fran. Valeu família Chauás. Valeu Botucatu.
Rui Seabra - SACI
