Fotógrafo da Adventuremag participa da 1a etapa da Copa AMETUR de Corrida de Aventura

Por Guto Freitas, especial para Adventuremag - 23 Abr 2004 - 17h18

Saio de São Paulo com duas missões: chegar a tempo em Ouro Branco, 96 km de Belo Horizonte, para a 1ª Etapa da Copa AMETUR de Corrida de Aventuras e cobri-la como um competidor.


Largada na cidade de Ouro Branco
foto: Guto Freitas


Subida íngreme logo no início da corrida
foto: Guto Freitas


Depois da subida, visual com cidade de Ouro Branco ao fundo
foto: Guto Freitas


Equipe segue em direção ao PC2, ao lado do Cruzeiro
foto: Guto Freitas


Equipe parte para outro PC depois de picotar o mapa
foto: Guto Freitas


Rapel duplo na corrida: um por dentro da cachoeira...
foto: Guto Freitas


... e outro pela lateral.
foto: Guto Freitas


Após o rapel, equipes graduadas se preparam para seguir ao PC10
foto: Guto Freitas


Integrantes da equipe CraftCamelbak/ Intertrilhas/ Nigiri durante subida de bike
foto: Guto Freitas

Com muitas corredeiras, cachoeiras, riachos e paredões, Ouro Branco faz parte da história brasileira, por ela passando a Estrada Real, parte da Rota do Ouro, importante meio de transporte no Brasil colonial.

Após 11 horas de ônibus consigo chegar a tempo de ouvir o briefing da prova. A seguir pego minhas coisas e vou me alojar e descansar: por conta da adrenalina, sei que vou dormir pouco.

Acordo às 6 da manhã, arrumo meus equipamentos, minha bike e vou beliscar um café da manhã leve com frutas, pão e queijo. Nesse momento, aproveito para preparar o “Lanchinho da Vovó”, essencial em corridas de aventura! Às 6:30 hs., consigo uma carona para levar a bike para Itatiaia, a 10 km de Ouro Branco, onde será a AT (Área de Transição). À essa altura a expectativa começa a bater forte, pois só receberíamos os mapas uma hora antes do início da prova e, como correria na Categoria Solo - a primeira inovação dessa prova -, teria que elaborar toda a estratégia da prova sozinho.

Depois de lacrar meu celular (item de segurança obrigatório) e participar da ação social da prova, a doação de um caderno universitário, pego o kit da prova, com o colete, mapa, planilha e croqui, que seria usado pelos competidores das Duplas Graduadas, entre os PC’s 5 e 6. Aí, o segundo diferencial da Copa AMETUR: como são especializados em provas de Mountain Bike, os organizadores da prova elaboraram uma planilha, com todos os detalhes do trecho de pedalada: bifurcações, pontes, pontos de referência, como casas, igrejas, bambuzais etc. No primeiro momento achei que isso prejudicaria a navegação da prova, mas ao mesmo tempo, pensei, deixaria a prova muito mais rápida, pois bastava seguir as suas indicações. Esse foi meu primeiro erro na prova, porque a planilha era também uma pegadinha: quem a seguisse à risca faria um percurso maior, pedalando até 6 km a mais do que quem navegasse pelo mapa. Além disso, a planilha não informava sobre subidas e descidas (mais tarde, já durante essa etapa da prova, descobri que as estradinhas da região só sobem!)

Já na correria contra o tempo, plastifico meu mapa sem sequer marcar o caminho que faria durante a prova. Como tinha que tirar fotos para a matéria, só olho o mapa com atenção a poucos segundos da largada. Nesse momento percebo que a Serra do Ouro, bem em frente à cidade, seria nosso primeiro desafio na prova. Com quase 300 metros de altura, a subiríamos numa íngreme trilha, com trechos de escalada!

Após subi-la, e já com a língua de fora, passo no PC 1, onde “picoto” meu mapa. Mais uma novidade da prova: técnica muito utilizada em provas de navegação, em cada PC havia um prisma, ao qual ficava preso um picotador, cada qual com uma marca diferente, de modo que, ao término da prova, basta aos organizadores compararem com o “gabarito” se as equipes haviam passado em todos os PC’s e se haviam picotado o mapa na ordem correta, sob pena de perder 30 minutos por cada erro. Em alguns PC’s, apenas para fins de conferência da colocação, horário de passagem e segurança de cada equipe, era necessário também assinar nas planilhas.

No topo da Serra, me dirigi ao PC 2, localizado ao lado do Cruzeiro, de fácil visualização, há pouco mais de 3 kms. do PC 1. Nesse trecho eu e outras equipes optamos por seguir por uma trilha paralela à estrada que boa parte das equipes pegou para chegar a ele, ganhando algumas posições.

Chego lá já entre as 15 primeiras equipes (Solo, Dupla Graduada e Dupla Amadora). Dirijo-me, então ao PC 3. No caminho, encontro e troco informações com um francês, o Philippe, que corria sua primeira corrida de aventura no Brasil. Passado o PC 2, a navegação da prova se mostrou um dos pontos fortes dos organizadores da prova, uma vez que, ao me aproximar do PC 3, encontro quase todas as primeiras equipes perdidas, à sua procura. Rapidamente, me localizo no mapa, identificando o PC 1, o PC 4, uma rede de alta tensão e uma estrada que passava sob ela. Assim, verifico que estamos – eu e as demais equipes – muito à direita do local onde seria o PC 3. Chego nele e picoto meu mapa. Dalí para o 4, bastaria cruzar uma pequena mata, cruzar um lindo riacho.

Chego no PC 4 já em 12º lugar (marcação na planilha, onde todas as equipes assinam), que consistia num rapel de aproximadamente 35 metros negativos. Ali, recebo a informação de que a passagem de pela Gruta de Ouro Branco havia sido suspensa pelos organizadores da prova. Mesmo com a autorização da Polícia Militar Florestal da região para passagem dos corredores pela gruta, o que exigiria andar com água até a metade do corpo, além do uso da head lamp, os organizadores da prova, atendendo a um pedido da seccional de Brasília do IBAMA, decidiram cortar esse trecho da prova, para evitar conflitos e qualquer degradação ao meio ambiente.

Rapidamente, me dirijo ao PC 5, etapa em que cometo um erro de navegação imperdoável! Como disse acima, a navegação é um dos pontos fortes da AMETUR. Nesse sentido, outra opção dos organizadores é não indicar nos mapas o que é trilha, estrada de terra etc. Assim, tudo no mapa, exceto estradas de grande circulação, aparecem no mapa como trilhas (pontilhado), o que foi avisado já no briefing. Nesse trecho, ao contrário de todas as outras equipes, decido pegar um atalho, objetivando pegar uma trilha um pouco mais à frente, após um pequeno morro. Resultado: teimoso porque não quis voltar até onde tinha entrado no mato, acabei me perdendo, só voltando a me localizar apenas quando avistei a linha de alta tensão que, segundo o mapa, daria exatamente onde era o PC 5. Vou sozinho, cortando matas, riachos – em um deles até parei para tomar um banho gelado, já que o sol não dava um segundo de descanso. Com esse erro chego no PC 5 em 39º lugar e decido partir para uma corrida de recuperação!

Saio correndo que nem um desvairado e quase cometo mais um erro de navegação: a categoria Solo iria direto ao PC 10 e eu já estava indo para o 6. Nesse momento fica claro para mim a dificuldade de correr Solo, uma vez que todas as decisões, verificações no mapa, race book, estratégias, medida de velocidade e gasto de energia ficam por sua conta, sem nenhum parâmetro para que você possa alcançar um equilíbrio. Paro, volto ao PC 5 e recomeço minha “corrida” ao PC 10. Só nesse trecho consigo alcançar e passar 2 competidores Solo.

No PC 10, outra decisão importante a ser tomada: tentaria ou não a bonificação de uma hora? Nesse PC, os competidores da categoria Solo tinham a opção de ir até o PC 9, onde as duplas graduadas fariam um rapel duplo, um por dentro da cachoeira, e outro pela sua lateral. Se fizéssemos isso, ganharíamos uma bonificação de uma hora no tempo final de prova. Olho a planilha do PC e vejo que o primeiro colocado da prova fez a bonificação e como havia perdido muito tempo e colocações entre o PC 4 e 5, decido partir para o tudo ou nada! Saio correndo feito um alucinado ladeira abaixo, rumo ao PC 9. Chego lá em 27 minutos, picoto meu mapa, descanso um pouco e volto, dessa vez pirambeira acima, em pouco mais de 40 minutos. Assim, ganhei uma hora, mas perdi 15 minutos e MUITA energia!!! Essa energia gasta se transformaria em insuportáveis câimbras no trecho de bike.

Puto da vida e decidido a não chegar em último, pois a essa altura, todos os corredores Solo já haviam passado por esse PC, pego a bike e parto para um downhill kamikase, no qual, segundo meu odômetro, alcanço 71 km/h.

Penso agora que devia tê-lo aproveitado mais, indo mais devagar, uma vez que depois dele, quase todo o trecho de bike era de subidas intermináveis.

Rapidamente passo pelo PC 11, onde a equipe graduada faria um trecho de natação. Mais uma vez os organizadores da prova se mostraram extremamente responsáveis e conscientes:uma vez que um laudo sanitário sobre a qualidade da água da Represa de Taboão, a qual um dos corredores da dupla graduada deveria cruzar até uma ilha, onde ficaria o PC 11, não havia ficado pronto até o dia da prova, a organização decidiu não arriscar a saúde dos corredores, cancelando essa etapa.

Nesse momento começo acompanhar a equipe CraftCamelbak/Intertrilhas/Nigiri (numeral 22) e, ao chegar ao PC 12, descubro que eles estão em 1º lugar nas duplas graduadas. Reúno minhas forças decidido a seguir seu ritmo o maior tempo possível. Uma das características que mais me atraem nas corridas de aventura é a solidariedade entre os competidores. Assim, quando caio no chão, sofrendo com minhas câimbras, um dos integrantes da equipe pára e me ajuda, fazendo massagem nas minhas pernas. Peço para que eles continuem, para não prejudicarem a sua prova, mas insistem em me ajudar com a alegação de que a minha saúde era mais importante do que ganhar a prova. Agradeço a eles: Fernanda Maciel e o Gustavo Caixeta

Seguindo a planilha e após muitas e muitas subidas, muitas e muitas paradas por conta de câimbras, passo pelos PC 13 e 14. Após o 14, cometo mais dois erros graves na prova:

  • após o 14, em sentido ao 15, havia um ponto de hidratação, uma fonte de água potável que dava num tanque. Ali parei, recarreguei as garrafas com água e Hydroplus, molhei a cabeça e fiz um rápido alongamento e saí pedalando, subindo novamente aquelas insuportáveis ladeiras de terra. Após pedalar e empurrar a bike por aproximadamente 2 km percebo que esqueci meu capacete onde havia parado. Resultado: tenho que descer tudo e voltar subindo tudo de novo!
  • somado a isso, caí na tal pegadinha da planilha da bike, uma vez que, por cansaço e portanto, por falta de atenção, sigo-a e me dirijo ao PC 15. Já à noite, recebo a informação de outro atleta da Solo de que não tínhamos que passar pelo PC 15, indo diretamente do 14 para a chegada (PC 16). Ou seja, com mais esse erro, pedalei 10 km a mais do que o necessário! Voltar, nem pensar!

Passado o PC 15 (Ufa! Finalmente descidas até o final da prova!), chego exausto ao final da prova, após 10:37 hs de competição. Lá recebo a informação de que apenas 3 duplas graduadas tinham completado a prova até então. As demais ainda estavam entre o 14 e o 16. Sento no chão e penso em tudo que passei nesse trecho e no sofrimento que eles passariam: o cansaço, o frio, as caimbras, o escuro, a vontade de chegar, de acabar logo a prova etc.

Feita a verificação dos picotes nos mapas dos competidores Solo sai a classificação da minha categoria: com a bonificação de uma hora que ganhei no PC 9, caio de 10º para 6º lugar.

Para aqueles que acham que mineiro não sabe organizar uma corrida de aventura forte e exigente, deixo o aviso: aguardem! Pois prometem uma prova ainda mais dura para a 2ª etapa. Estarei lá e espero encontrá-los todos na linha de chegada!

Classificação final da categoria Solo

Class.

Atleta

PC 2

PC 4

PC 5

PC 10

PC 9 Opc

PC 14

Tempo total

Pontos

216 Farinazzo – MG

9h 41’

10h 59’

11h 39’

12h 25’/13h20’

Ok (- 1h)

15h 12’

6h 30´32”

20

211 Frederico - MG

9h 51’

11h 06’

11h 54’

13h 12’

-

14h 51’

7h 42´55”

17

208 Ricardo Yukio - SP

9h 59’

11h 36’

12h 33’

13h 38’

-

16h 13’

9h 06´41”

15

202 Marco – MG

10h 05’

11h 31’

12h 44’

14h 10’

-

16h 27’

9h 11´30”

13

205 Kellen – MG

10h 05’

11h 33’

12h 44’

14h 11’

-

16h 28’

9h 11´31”

12

201 Guto - SP

10h 02’

11h 28’

13h 12’

14h 13’/15h30’

Ok (- 1h)

17h 14’

9h 37´52”

11

214 Marcelo – MG

10h 30’

12h 42’

13h 08’

14h 20’

-

16h 30’

10h 11´32”

10

209 Phillippe – FRA

10h 00’

12h 42’

13h 43’

14h 52’

-

17h 08’

10h 12´47”

9

204 Marcelino - MG

10h 06’

11h 31’

12h 40’

14h 11’

-

17h 03’

10h 27´54”

8

10º

203 Vamberto - MG

9h 59’

11h 33’

12h 37’

13h 49’

-

16h 27’

10h 27´55”

7

11º

207 Rildo - MG

10h 02’

12h 34’

13h 34’

14h 49’

-

17h 09’

11h 00´18”

6

12º

206 marcelo - MG

10h 20’

12h 13’

13h 09’

14h 30’

-

16h 38’

11h 00´19”

5

13º

215 Flávio - MG

10h 30’

13h 30’

14h 44’

15h 58’

-

18h 02’

11h 06´46”

4

14º

212 Pedro - MG

9h 59’

11h 44’

12h 58’

14h 51’

-

17h 27’

-

3

15º

217 Luiz - MG

10h 04’

11h 28’

12h 33’

-

-

-

-

0

16º

213 Evandro - MG

10h 16’

12h 58

-

-

-

-

-

0

17º

Vinícius (Repórter)
Brasília - DF

Repórter cinematográfico - Correu fazendo a cobertura do evento com uma câmera filmadora digital

 

Guto Freitas, <i>especial para Adventuremag
Por Guto Freitas, especial para Adventuremag
23 Abr 2004 - 17h18 | sudeste |
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