De volta à Cananéia - Relato da equipe Guaranis na Cananéia II

Por Marco Antonio - 13 Nov 2003 - 09h50

De volta à Cananéia

Depois de nos recuperarmos do episódio chuvoso da etapa Cananéia/SP, da Expedição Chauás, voltamos ao local para participar da prova treino promovida pela organização. O objetivo era realizar o trecho que a maior parte das equipes, inclusive a nossa, não completou durante a expedição: do PC 7 em diante.

Seguindo as instruções, partimos de Bike, às 14 horas do sábado, a partir do PC 4 e seguimos pela estrada até o antigo PC 8. Num ritmo leve - afinal nossa meta era treinar a tão temida navegação - chegamos ao PC e seguimos a pé, fazendo o caminho do PC 8 para o PC 9, mas só que deveríamos desviar para o PC 7. Já no início, nos primeiros 200 metros, uma pequena discussão sobre que caminho seguir seria o prenúncio de uma longa caminhada.

Seguimos pela trilha. Uma enorme, imensa e gigantesca subida nos esperava. Após algum tempo, chegamos à uma cachoeira. De acordo com o mapa, a trilha seguiria um paredão, o que correspondia ao local da queda d'água. Mas a incerteza fez com que perdêssemos algum tempo procurando o caminho seguinte. Optamos por uma ascensão - sem cordas - pelo lado direito da cachoeira. Depois descobriríamos que o caminho seguia pelo lado esquerdo.

Continuamos a subir. Quase no topo, a visão que compensaria todo o esforço. De lá podíamos ver o mar, parte do que achávamos ser a Ilha Comprida, o rio e o ponto de onde havíamos partido.

Pouco tempo depois começamos a descida, ou melhor o ski bunda, não tinha como não cair na trilha, estava muito liso e um puta barranco que acabou arrancando algumas gargalhadas. Íamos muito bem na navegação até que a trilha sumiu. Seguimos um pouco, tentando encontrá-la e nada. Voltamos. Seguimos de novo. Voltamos de novo, até percebermos que estávamos andando em círculos. Já não achávamos mais a trilha. A tarde estava caindo e o nervosismo ou medo batendo. Apesar da nossa pouca experiência em provas noturnas, nunca tínhamos passado pela necessidade de abrir a mata. O Marco - capitão e navegador - sugeriu que abríssemos a mata e continuássemos descendo. O Rogério - integrante mais novo da equipe - ficou preocupado com a situação. Os dois começaram a segunda discussão do dia. A tensão aumentou até que o Silvio - o terceiro integrante - tentou acalmar a situação. Discussões à parte, seguimos abrindo a mata com o azimute a 310 graus, o sentido que deveríamos seguir para tentar encontrar novamente a trilha. Na descida da mata fechada encontramos um riacho, que acreditávamos ser um rio paralelo à trilha perdida. Tomamos a decisão de percorrer o rio, pois era mais fácil caminhar pela água a abrir a mata.

Já era noite quando o rio começou a virar a Leste, quando tínhamos que seguir a Noroeste. Se continuássemos provavelmente cairíamos na trilha que dava ao antigo PC 9, o qual não deveríamos percorrer na prova/treino. Sabíamos que era o rio errado e tínhamos que voltar até o ponto de entrada no rio. No retorno notamos luzes no meio da mata. Pensei que já fosse o resgate à nossa procura. Era outra equipe, os High Five , composta pela dupla Fred e Richt.

Nos unimos à procura do caminho correto. Os seis voltaram ao ponto de partida do rio e continuamos no mesmo azimute, mas novamente pela mata. Encontramos um segundo córrego, desta vez o correto. Começamos a descer o rio que secou num determinado momento. Continuamos pelo trecho das pedras secas, já que permitiam mantermos uma velocidade mínima, sem a necessidade de rasgar uma nova trilha.

Ao descermos o que um dia foi uma queda d'água, numa altura de mais de dois metros, a Lilian notou uma clareia do lado direito e perguntou se alguem poderia verificar se realmente era uma verdade ou somente uma alucinação. O Fred foi verificar. Só ouvimos o "PUTZ", seguido de um eterno silêncio. "'Putz' o quê? Fala?", perguntei. E nada. O Rogério e eu fomos verificar e para a nossa alegria era uma horta, ou melhor, a nossa saída.

Mas a nossa alegria não era apenas por finalmente termos encontrado nosso caminho, mas pela noite maravilhosa que fazia. Até então estávamos no meio da mata, sem sequer ver o céu. A noite era de lua cheia e, para ser mais completa, era o início do eclipse. Ficamos parados alguns minutos apreciando o fenômeno e seguimos adiante. Encontramos um casebre, cujos moradores nos indicaram o caminho. Chegamos ao famoso PC7, aquele que a maioria não encontrou o caminho em direção ao PC8. Fomos os últimos, mas estávamos vivos. No total,  sete ou mais equipes largaram, mas acho que a nossa aventura foi a mais radical.

Para evitar novos problemas, a organização dispôs de um guia até a entrada da trilha. Nós navegaríamos sem a ajuda dele até onde surgissem as dúvidas. A trilha ainda estava bem mexida como da primeira vez, mas com apoio seguimos em frente. Alguns metros depois do guia nos deixar, logo no início, pegamos o caminho contrário. Novamente as duas equipes na direção errada. Mas como o intensivão de navegação já tinha nos deixado craques, voltamos logo nos primeiros metros e finalmente encontramos a tão escondida trilha. Algumas horas depois, saímos na estrada, onde pegaríamos novamente as bicicletas em direção ao AT do remo.

O início do remo não foi fácil, muitos troncos no caminho. Como estávamos de canoa era mais complicado que o duck fazer o leme e a última coisa que queríamos era virar. Ainda estava escuro quando iniciamos a remada, o que dificultou ainda mais. Quando finalmente achávamos que o remo ficaria mais tranqüilo, surgem dois imensos troncos fechando a passagem do rio, que estava cheio. Não conseguimos passar com a canoa e voltamos ao ponto de partida. A essa altura o estresse tomou conta da situação e decidimos seguir a pé. Fim de prova para a nossa equipe. Os High Five, que chegaram antes no remo, continuaram e terminaram o percurso. Os Guaranis seguiram num treking até o PC de chegada.

Esperamos que o pessoal da Chauas elabore bastante prova/treino para a gente treinar muito mais ainda a navegação, que com certeza foi um excelente treino.

Equipe Guaranis.
Vencendo Limites.

 

Marco Antonio
Por Marco Antonio
13 Nov 2003 - 09h50 | sudeste |
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