Anjos no Half Mision Brasil

Por Redação - 16 Out 2013 - 15h47

Por Plauto Holanda

Soube da prova e logo me interessei. Na expectativa da prova, decidi viajar com toda a família de Fortaleza (CE) para Passa Quatro (MG). Embarcamos eu e minha esposa, grávida de 5 meses da nossa primeira filha, a pequena Lia.

Já no local da prova, encontrei lá com mais três amigos que também viajaram do Ceará, casal Marcos e Simone e Rodrigo. Ao encontrarmos com o Togumi, organizador do evento, soubemos que a prova seria bem mais "casca" do que prevíamos. Havia feito os 100k na Patagônia em abril e, por isso, acheva que faria os 80 km da Half Mision tranquilamente. Fatal engano!

Larguei a prova num bom ritmo, pois queria fazer os dois primeiros picos ainda na luz do dia. Me sentia bem e assim o fiz. Cheguei à Pedra da Mina no final da tarde, começando a descer já sem luz natural. Continuei a rodar bem até o posto do IBAMA, onde comi, reabasteci a mochila de água e saí rapidamente. Previa terminar a prova em 18 horas e, até ali, ainda acreditava que daria. Foi a partir do km 50 que comecei a sentir fortes dores de cabeça e mal-estar. Continuava progredindo na prova, mas minha situação física só piorava. Logo que passei o apoio da casa de pedra comecei a vomitar e a sentir tonturas.

Parava no meio do mato, desolado e triste por ver que a prova pra mim estava chegando ao fim. Já sem vontade de continuar, eis que aparece um atleta-"anjo". O número dele na prova era 45. Já havíamos nos falado quilômetros antes. Ao ver meu estado já debilitado ele logo encosta ao meu lado e passa a me motivar a seguir. Paro e vomito novamente. Ao recuperar o fôlego digo a ele para não perder seu tempo e seguir. Para minha surpresa, ele responde: "só sigo em frente se você seguir. Eu tenho paciência. Espero você melhorar, descansa mais aí que eu fico parado aqui perto te esperando". Fiquei comovido, pois vários outros atletas haviam passado e continuavam passando naquele momento, mas ele não ligou pra colocação nem tempo. Ele ficou ao meu lado, muito paciente, me "empurrando" montanha acima até chegarmos no ponto onde se encontrava o staff do último pico. Tudo isso levou cerca de 2 horas e ele só sossegou quando me viu amparado pelo apoio da organização.

O atleta anjo 45 - Silvio Teixeira Barbosa
O atleta-anjo de número 45, Silvio Teixeira Barbosa

Fiquei por ali mesmo. Deitei dentro da barraca do patrulheiro e acabei cochilando por uns 30 minutos. Acabei percebendo que ficar ali não melhoraria nada. Resolvi seguir, apesar da sensação de febre, sentindo muito frio. Desci aquelas pirambeiras cheias de lama, com uma coisa na cabeça: ao chegar ao Refúgio eu paro e desisto disso tudo. Vomitava a cada 30 minutos, mesmo bebendo somente água. Chegando ao Refúgio, sentei já perguntando se havia algum carro para me levar para a cidade, onde também era a chegada da prova. Mas me disseram que teria que esperar. Lá também estava o atleta de Curitiba número 24, Gigio, que me disse: "você já sofreu esse tempo todo e quer desistir agora que só restam 12km? Eu também vomitei no começo, mas vou indo aqui. Vamos continuar, nem seja andando". Aquilo me deu um empurrão! Afinal, eu estava perto de completar algo que na minha cabeça já havia desistido desde o 50.

Bebi uns goles de água e segui atrás do Gigio. Mas dez passos depois vomitei toda a água que havia bebido. Pensei: 'como vou continuar se estou tonto e sem energia e se mal consigo beber sequer água?' Aí entram os mistérios e a beleza dos esportes. Algo dentro de mim me impulsionou mais uma vez, me fazendo seguir num trote até ficar ao lado do Gigio. Imaginei que segui-lo talvez não lembrasse de todo o mau estar. E assim fui, andando a passos rápidos junto do outro atleta. Faltando uns 3km para a chegada, mais uma paradinha para vomitar. Já estava me acostumando. Hehehe...

Plauto e Giovani na chegada em Passa Quatro
Plauto Holanda e Giovanni Zem (Gigio) chegando no centro de Passa Quatro na manhã de domingo

Seguimos assim, lado a lado, até cruzarmos a linha de chegada. Para mim, algo surreal, pois minha lógica não acreditava naquilo. Minha cabeça já tinha se entregado, mas acho que minha alma de atleta não quis se entregar e me impulsionou até o fim. Mesmo sem energia alguma, pois não ingeria alimento há mais de 5 horas, minha cabeça dizia: 'como posso estar aqui? Não era pra conseguir. Você estava sem nada no organismo'. Sei lá! Só sei que cruzei aquela linha, vendo minha amada esposa sorrindo, com nossa filhinha na barriga e nas mãos a medalha que ela mesma colocou no meu pescoço.

Aprendi muitas coisas com essa prova, bem mais do que se a tivesse feito toda certinha e no tempo que planejava. Vi que o esporte está cheio de "anjos", pessoas que estão ali para nos ensinar o que é o verdadeiro companheirismo. Agradeço de coração ao número 45, Silvio, que permaneceu ao meu lado no pior momento, mesmo sem me conhecer e ao número 24, Gigio, por me dar o gás final. Essa foi a primeira Half Mision Brasil e que deve ser muito respeitada!

A chegada em Passa Quatro teve direito a entrega de medalha pela esposa, gr�¡vida de 5 meses
A recompensa: entrega de medalha e beijo da esposa, grávida de 5 meses de sua primeira filha

Serviço
Short & Half Mision Brasil 2013
12.10.2013
Serra Fina, Passa Quatro (MG)
www.halfmisionbrasil.com.br
Redação
Por Redação
16 Out 2013 - 15h47 | geral |
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