Ecomotion Pro 2012: uma bailarina no cerrado

Por Marcos Alain - 30 Mai 2012 - 18h32

Quando se pensa em uma integrante para um Ecomotion, logo vem a imagem de um mulher-macho (se possível até de bigode, como a equipe Brou Aventuras/ Água Mineral Viva apresentou na abertura do evento). Bruta, carrancuda, forte e sem frescuras para aguentar o batido de remar 108 Km, pedalar 321 Km, caminhar/correr 155 Km e ter fôlego pra descer mil metros de tirolesa e rapel.

Travessia de rio

Convocar uma bailarina para esta roubada a principio parece ser um tiro no pé. Após oficializada a participação da equipe Off Limits / Recipallet no Ecomotion Pro 2012, nossa maior preocupação passou a ser com nossa atleta feminina – Camylla Pontelo, nossa bailarina.

Camylla sempre foi apaixonada por atividades físicas, todos os tipos e em todas suas variações. Dentre estes podemos citar a corrida de rua, futebol, volley, rafting, ciclismo, canoagem, mergulho. Mas a atividade mais marcante em sua carreira foi a dança. A atleta fez ballet e jazz dos 3 aos 15 anos de idade, quando passou de aluna para professora (até os dias atuais). E pra quem pensa que praticar ballet é fácil, engana-se, haja visto o filme "O Cisne Negro", que mostra com real veracidade o quão árduo é a vida de uma bailarina. São horas e horas de treinamento, inúmeras privações alimentares e de vida social, nada diferente do cotidiano de qualquer atleta de alto rendimento.

Entretanto, o que queremos chamar atenção neste texto é a relação oposta de uma bailarina para uma corredora de aventura. Apesar de já termos citado que uma bailarina não tem nada de frágil, a ideia que a dança transmite é a delicadeza da dançarina, totalmente o oposto do que se deseja em uma corredora de aventura. Precisávamos quebrar esse paradigma. Camylla seria mais uma prova viva do que uma bailarina é capaz.

Ainda assim o grande medo ressoava por todo o restante da equipe. Apesar de também ser muito castigado, o pé de uma bailarina não se aproxima nunca aos desgastes do pé de uma corredora de aventura. Acostumada às pontas de sapatilhas e ao "conforto" dos tablados, Camylla teria que se adaptar aos intermináveis trekkings em solo acidentado, sem falar da umidade quase que constante ao longo dos 6 dias de prova. A grosso modo, a mudança seria da delicadeza para a brutalidade.

Não é nenhuma novidade que os pés são, sem nenhuma sombra de dúvidas, a parte do corpo mais castigada durante uma corrida de aventura. Sendo assim, nosso maior medo não era se a nossa integrante teria pique para completar a prova, e sim se seus delicados pés de bailarina conseguiriam suportar tamanho desgaste.

A situação começou a ficar mais grave do que se pensava quando começaram a aparecer bolhas nos treinos curtos de preparação da equipe. 20 Km, 15 Km, até mesmo 10 Km e lá estava a bolha armada.

Agradecemos a todos os amigos que colaboraram com dicas, mandingas e superstições para amenizar as bolhas da atleta. Mas a última, e talvez salvadora da pátria, foi a dica do casal de amigos Mariza Helena (Equipe Selva) e Juninho (Equipe Brou) que ficaram horrorizados ao ver surgir uma bolha num "treino trote" de 5km que fizemos juntos. O casal que dispensa comentários sobre a experiência em provas pelo Brasil e exterior, indicou correr toda a prova com meia social. Compramos um estoque de 20 pares de meia e fomos pra batalha.

Descanso
Descanso merecido ao final da prova © Irineu Baroni

Camylla não só conseguiu completar o percurso com muita braveza, como ainda sobrou fôlego para ditar o ritmo no trecho final de 40km de bike, com direito a sprint deixando os 3 marmanjos da equipe (eu, Alexandre Salgado e Vamberto Barone) bem para trás.

Contrariando as previsões mais pessimistas, ainda conseguiu sair da prova sem nenhuma bolha sequer. O truque da meia social aliado ao excelente atendimento dado pela equipe médica da prova em todos as áreas de transição foram fundamentais para tal proeza. Em sua estréia em provas longas, com apenas 23 anos Camylla ganhou ainda o título de participante mais jovem desta edição (dentre mulheres e homens). Promessa de mais uma grande atleta no escasso ramo feminino das corridas de aventura.

Além da patrocinadora Recipallet (empresa especializada na coleta, transporte e destinação final de resíduos de madeira), gostaríamos de agradecer o apoio de todos os amigos e familiares que acompanharam nossa preparação para prova, e em especial aos amigos Everson Costa e Irineu Baroni pelo incentivo e APOIO dado durante a prova, ao nosso preparador físico Wagner Figueiredo e a Academia Corpus de Sete Lagoas que elaborou toda a preparação dos atletas para encarar o desafio. Nos vemos na trilha, ou no tablado... (risos)

Marcos Alain
Capitão da Equipe Off Limits / Recipallet

Equipe completa
Equipe completa antes da largada do Ecomotion Pro 2012 © Irineu Baroni

Sprint final
Sprint final deixou companheiros para trás © Irineu Baroni

Marcos Alain
Por Marcos Alain
30 Mai 2012 - 18h32 | geral |
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