Apoio da equipe

Eu uso o termo Apoio da Equipe e não Equipe de Apoio por uma única razão: existe uma só equipe, constituída de competidores e apoio. Isso deveria ser redundante, mas tenho a impressão de que não está claro para muitos, pois vejo pessoas se estressando no meio da prova reclamando que o apoio falhou ou não funciona, como se fossem eles uma parte independente, como uma prestadora de serviços. Eu encaro o apoio como parte da equipe, e se ela não funciona de acordo é um problema da equipe e não das pessoas que estão lá como apoio.

Digo mais: é parte fundamental do planejamento da equipe considerar o pessoal do apoio, treinar em conjunto e cuidar para que esse trabalho normalmente ingrato seja agradável. Eles necessitam de conforto e condições para render de acordo e ajudar a parte competidora a se desenvolver bem. O trabalho do apoio da equipe faz parte do conjunto do time.

Se os competidores chamaram pessoas despreparadas para preencher o protocolo de ter o tal apoio para deslocar o carro entre áreas de transição, então é da responsabilidade da equipe competidora a falta de aptidão e traquejo das pessoas que compõem a parte de apoio. O pessoal de apoio não deve ser tratado como escravos, babás, equipamento obrigatório e muito menos como um mal necessário. Os times têm que trabalhar para integrar esse pessoal na equipe e a parte competidora deve pelo menos demonstrar gratidão a eles pelo trabalho ingrato, porém fundamental, que eles desenvolvem no decorrer da prova.

Imagine alguém que ficará esperando por você, dormindo mal e em condições precárias, talvez sem um sono decente por dias a fio. Alguém que vai estar limpando e organizando suas roupas imundas (já reparou no estado que suas meias ficam de vez em quando?) para que você tenha um pouco mais de conforto nas etapas seguintes. E a preparação das bicicletas, que podem estar imundas e totalmente desreguladas?

Acho que eles merecem ter pelo menos uma garrafa térmica, onde podem manter um chazinho quente, umas bolachinhas gostosas, um colchonete isolante térmico onde possam esticar o esqueleto caso tenham uma folguinha. Um sistema desburocratizado de organização de materiais, roupas e equipamentos que esteja organizado de forma simples num veículo, se possível, espaçoso. Enfim, o mínimo de preocupação com o conforto e condições de trabalho deles apenas resultará em benefício para a equipe.

Sugiro que as equipes procurem manter pelo menos duas pessoas com afinidade como pessoal de apoio (sempre que permitido), pois quebra um pouco a monotonia dos momentos lentos além de facilitar a organização da bagunça na hora da correria e poder revezar na vigília e no volante. É interessante que eles sejam viradores e pelo menos um deles domine a habilidade de manutenção e regulagem de bicicleta.

Num estágio mais avançado, como equipes estruturadas que treinam em conjunto, o apoio pode também ajudar muito na fase da preparação da prova. A semana antecedente tende a ser uma correria só. Assim, se puder contar com o pessoal de apoio para correr atrás dos materiais e da burocracia, os competidores poderiam ter um pouco mais de folga e tranqüilidade.

Apenas um lembrete: quando alguém aceita integrar uma equipe de corrida de aventura, mesmo como apoio, deve estar ciente de que estará integrando uma equipe de competição e que terá que trabalhar para isso. Este negócio definitivamente não é uma oportunidade de turismo com custos pagos.

 

Luiz Makoto Ishibe
Montanhista/Corredor de aventura

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