Relato do Haka Race de Ilha Comprida

Por Sandro Badaró

Realmente a corrida de aventura é simplesmente fascinante e surpreendente! Por isso curto tanto esse meu esporte e vou tentar aqui demonstrar o por que.

Já tinha feito outras provas em Ilha Comprida, inclusive a última tinha sido o Haka Expedition 100km com o quarteto Matadentro, onde fomos campeões.

Cheguei sexta à noite, já com o mapa e com o quarteto da Matadentro. Tivemos a impressão (e acho que a grande maioria teve também) , que seria uma prova fácil e rápida.

Pois ao olhar o mapa, parecia praticamente que não se teria navegação. Somente seis PCs (posto de controle) numa prova da categoria Pro 50km, divididos em três modalidades: trekking, 14km; bike, 19km; e remo, 17km, com o rapel no meio da canoagem, sendo a volta da remada a reta final. A grosso modo praticamente um Triathlon…só que não! E é por isso que não gostamos dessa comparação quando é feita.

A largada seria de trekking, com o percurso num trecho que já havia sido feito no Expedition do ano passado e parecia que seria muito fácil. E muitos atletas  comentavam entre si, o que às vezes, esquecemos que na corrida de aventura, nada é o que parece, estamos falando e lidando com a “mãe natureza”. Tínhamos feito sim esse trecho, à noite, há mais de 6 meses atrás, e o que era uma coisa a noite, de dia virou outra, além da combinação  da Chuva/Sol durante estes meses, transformaram uma “mata viva”, crescendo boa parte da vegetação, fechando trechos, modificando outros, com árvores caídas que antes não estavam ali, mutando de tal forma o aspecto da mata, que tudo era novo, pronto para ser desbravado novamente!

A natureza no comando, e aquela reta do mapa logo mostrou seu poder, e não foi em um ponto isolado não! Tivemos vários trechos de vara mato, atoleiros, mangue que mais parecia areia movediça (onde o jeito mais fácil de se locomover era mesmo se rastejando na lama, para não afundar as pernas até a cintura e ficar preso,rsrs).

E aí vem mais uma máxima das aventuras, “Nem sempre os mais fortes vencem”, que para mim é o grande diferencial desse esporte, o que faz dele um xadrez de estratégias, que me conquistou.

Com todas essas considerações, largamos às 10:00hs da manhã do Vilarejo de Pedrinhas, por uma estrada de areia típica do litoral,  de pouquíssimo fluxo e areia fofa. A estrada foi se afunilando até virar trilha e em seguida um single mata à dentro com vários pontos alagados de lama, que em algumas vezes afundava até a cintura.

Largada num ritmo forte, e entre os ponteiros já sabia que disputaria a prova toda com o Anderson (Carioca), atleta forte sempre na ponta. Pelo menos umas três vezes no trekking as equipes que abriam na frente se juntavam com as demais. Quando a trilha desaparecia e começavam as buscas pelo caminho correto, alguns saiam para um lado e outras sentido contrário, com momentos que era possível perceber ou ver, que estavam se abrindo até três caminhos diferentes,  e assim as posições foram se alternando a ponto de ninguém mais saber quem liderava a prova.

Ao contrário do que todos pensavam, que seria um prova rápida, para os mais fortes ficou claro que “isso é corrida de aventura e nada está definido até que se cruze o pórtico”!

Enfim chegamos ao PC01. Até esse momento vinha junto com o quarteto da Matadentro, minha equipe oficial (pois esse ano estou fazendo o Hakinha Solo, pois felizmente estamos com uma boa formação e permite a possibilidade de alternar integrantes em algumas corridas). O Carioca vinha por ali com a gente, e era bom para mim tê-lo à vista e saber o quanto de esforço teria de fazer.

Mapa picotado, pois o Pc era virtual (Pc virtual é aquele onde não existe a presença de um fiscal, apenas a bandeira e o picotador para marcar no mapa que deve ser apresentado e conferido na chegada), e na sequência era sair por um single bem marcado, uma trilha de turismo até o PC02/AT01, transição para a bike, mas ali já havia perdido o Anderson de vista, que me fez desejar boa prova ao meu quarteto para impor meu ritmo. Ainda acompanhado do quarteto e da dupla da equipe Ubuntu (rapaziada gente fina e que vem crescendo a cada dia, terminando na segunda posição), conversando com eles disseram que também como a Matadentro, nossa equipe, estavam com atletas em todas as categorias, inclusive um solo que não sabiam dizer por onde andava nesse momento da prova. Encaixei meu ritmo mais uma vez, e desejando boa prova a eles…segui.

Chegando ao PC02, como de praxe aquela conferida nas posições e verificar quais equipes já passaram. A surpresa foi que grande maioria dos “ditos favoritos” não haviam chegado ainda, e eu era o segundo solo. Enquanto trocava o tênis pela sapatilha, chegou o Carioca logo na sequência, e aí me perguntei se ele estava ali, quem seria o solo à nossa frente?

Perguntei ao Brunão (staff), se ele sabia quem era o atleta, e só me disse ser um solo andando junto com uma dupla. Saí pedalando consciente que logo atrás, à minha caça viria o terceiro colocado até aquele momento. Mais uma vez encaixei meu ritmo, e como nesse trecho não tínhamos que navegar, era escolher entre seguir pela estrada de areia ou pela própria praia até PC03/AT02 transição da bike para o remo. Foram 19km de bike, e com uns 8km pedalados, fui alcançado e ultrapassado. A estratégia foi não perdê-lo de vista. A estrada que era praticamente um retão, tinha alguns “s” onde perdia meu adversário de visão. Logo no primeiro deles, assim que retomei a visão, percebi que ele adotou uma estratégia de levantar da bike e imprimir um sprint sempre que saia do meu campo de visão . Apertei ainda mais meu ritmo para não deixar abrir tanto, porque já vínhamos numa tocada bem forte à procura do solo desconhecido. Faltando uns 5km avistamos o primeiro colocado, e Anderson apertou mais, e com mais um sprint ultrapassou forte o primeiro. Eu preferi mantê-lo na visão, pois ainda haveria todo o remo pela frente, optei por ser mais conservador na estratégia e não ir para o tudo ou nada, ( pois daqui 11 dias terei o Haka Expedition 120km pra correr em dupla mista e em plena fase de preparação para o Lamision 50km de corrida de montanha).

Chegamos ao PC03/AT02 da bike praticamente junto com o atual segundo, quando descobri que o solo misterioso era o Luciano Lino, atleta da equipe Ubuntu, o qual havia conversado  com a equipe dele. Deixei a bike no AT (mesmo local de largada e chegada, bem localizado no centro da Vila) e vi por ali que já haviam alguns atletas da categoria Sport, familiares assistindo a passagem e chegada, e alguns conhecidos que ali estavam, me avisaram que o primeiro colocado havia acabado de sair, e o segundo estava ali, ainda se abastecendo de água. Como não precisava de nada, apenas assinei o PC04/AT03 e saí para o remo, que ficava há uns 50metros de onde tinha deixado minha bike. Aproveitei esse trecho andando para comer algo e me hidratar e não ter de fazê-lo no primeiro trecho do remo. Saímos remando praticamente juntos….nos cumprimentamos e seguimos.

Seriam 17km com o PC05 à direita, subindo a correnteza, ficando atrás de uma ilhota, que podia ser acessado por ambos os lados. Passagem confirmada com Wagnão Staff, super amigo, que sempre nos presenteia com belas fotos tirada por ele em todos os seus PCs.

Retorno feito, o negócio era voltar pela margem contrária do canal e pegar a bifurcação à direita, seguindo até uma ponte de concreto alta, que cruzava o canal até o PC06/AT04 rapel. Aqui já na segunda posição, percebi que o Luciano não vinha me acompanhando na remada, e somente depois fiquei sabendo que teve muita cãibra e dificuldades que lhe custou não só a segunda posição, mas a perda de várias, terminando na sétima colocação.

Como ali teríamos de fazer o rapel antes de retornar pelo mesmo percurso, minha estratégia era remar bem na ida, pois estando entre os primeiros na geral, não pegaria muita fila e congestionamento de atletas no rapel. Já que queria fazer a descida e não optar pelo PC Extra (que estava a 1km pelo asfalto), além de ter a vantagem de poder retornar monitorando a distância de possíveis concorrentes.

Encostei  meu caiaque na margem, peguei meu kit de vertical e subi a ponte até o local de se equipar o kit de vertical. Comprimentos aos amigos, e bóra seguir as orientações do Maurício Staff e “rapelar” até a base da pilastra da ponte, e detalhe, ela ficava há uns 50metros da margem. Como nas duplas um atleta apenas faz o rapel e no quarteto dois, os que não fizeram a atividade vertical,levavam o caiaque ao lado da pilastra que facilitava o retorno. Como eu estava solo, o jeito era pular na água e nadar até meu barco.

Agora restava finalizar a remada e concluir a prova. Voltei com a dupla da Lebreiros Edu e Geni, (campeões na categoria dupla mista), conversando, brincando e rindo do Edu, que fez todo o percurso “tirando onda” com a Geni. Fomos vendo as equipes passando por alí,  analisando as colocações de cada categoria, incentivando os conhecidos e principalmente vigiando os possíveis concorrentes.

Finalmente alcancei a margem, desci do caiaque pegando minhas coisas seguido daquela corridinha pra cruzar o pórtico em segundo e receber a medalha de participação. Comprimentos dos amigos com a nossa tradicional Long Neck gelada da equipe Matadentro, rsrs e aguardar a chegada dos demais integrantes da equipe.

Supresa ao saber que os vencedores no quarteto foi a equipe Kaare, que como disse, fizeram a diferença no trekking, acertando as melhores opções e encontrando as trilhas certas quando a mata fechava.

O quarteto da Matadentro chegou na quinta posição, mandando muito bem: Rogério(Cocão); Vanius; Vini e a   Sandrinha ( que no trekking, quando foi cruzar umas das diversas pontes de madeira, pisou numa das tábuas que quebrou e cedeu, abrindo um baita corte na canela dela, que fez a prova toda muito guerreira, levando 5 pontos ao chegar à noite em SP).

Dupla Mista Pró, Ziolli e Paty Linger, conquistaram a terceira colocação, e na Dupla Masculina Pró, Marcelo Carrozza e Camilo ficaram em oitavo.

Parabéns ao Léo e toda a organização da prova, Prefeitura e responsáveis pelo acontecimento na cidade de Ilha Comprida.  Um especial aos Staffs,  que estão sempre ali nos apoiando, incentivando, dando aquela força.

Agradeço ao Sidney Togumi da Upfit com quem venho treinando e melhorando muito minha corrida e tem feito a diferença por aqui, seguindo juntos rumo ao nosso desafio e objetivo! Em agosto, Half Mision, Lamision. Mas logo mais, Serra  Fina em Passa Quadro, onde será também o Haka Expedition dia 31/05, nossa próxima parada.

E lógico que não posso deixar de agradecer aos meus companheiros de treino da equipe Matadentro, parceiros de todos os perrengues, amigos, incentivadores, minha família por opção com quem divido e comemoro meus desafios pessoais e conquistas. Estamos juntos Matadentro!!!

 

 

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