Relato Expedição Terra de Gigantes na Expedición Guaraní 2018

Por Philipe Campello

O ano de 2017 foi um ano fora das provas para a Equipe Terra de Gigantes Selva. No início do ano, Caco precisou fazer uma cirurgia e no segundo semestre, eu sofri um acidente de bike e acabou toda a possibilidade de correr alguma prova. Sedentos, começamos a planejar 2018 com duas provas de 500 km. A prova do segundo semestre já estava escolhida, retornaremos para Patagônia Expedition Race no Chile. Para o primeiro semestre, depois de ouvir falar muito bem da Expedición Guaraní, resolvemos nos preparar para esse desafio.

Depois de meses de treino, logística e tudo que está por trás do momento da prova, partimos para o Paraguai. Como a distância não era muito grande, resolvemos ir de carro. Dormimos em Foz do Iguaçu para esperar a Mari que chegaria de avião e da cidade seriam mais 4 horas. No sábado, o primeiro susto! Com todos no carro, fomos atravessar a fronteira. Um local confuso, onde alguns são parados, outros não, não sabíamos exatamente quem era autoridade e quem não era. Um guarda nos pediu para fazer o registro. Ao entrar, nos solicitaram a vacina de febre amarela, porém o Carcaça tinha esquecido em casa. Pensamos, e agora? Naquele momento entrava um grupo de sacoleiros pela ponte entre a serviço aduaneiro e o carro, foi quando o Caco falou: Carcaça, encosta no grupo e entra correndo! Inacreditavelmente, Carcaça saiu correndo na multidão e só fomos encontra-lo 20 minutos depois em Ciudad del Leste. Passado o susto, partimos para Encarnación!

Chegando na base da prova, um hotel lindo, percebemos a organização da prova. Cheque de equipamentos organizado, rápido e em poucas horas já estávamos no quarto descansando. Jantar de confraternização, dia seguinte de preparação e ansiosos para a largada.

Chegou o grande dia! Acordamos às 3 da manhã, entregamos os últimos “bolsos” e vamos para o mapa. O mapa é um capítulo à parte, simplesmente perfeito! Caminhada para a largada e fomos nós. Eram dois modelos de caiaque, um laranja bem parecido com os nossos da Hydro2Eko e um amarelo simplesmente impossível de manter reto. Está ruim para nós, está ruim para todos!

A primeira parada da canoagem de 11 km foi em uma pista de orientação montada em um campo de golfe. O interessante é que não havia mapas, as equipes precisavam memorizar os mapas fixados nos Postos de Controles. Depois mais 20 km de canoagem até o primeiro trekking. Um trekking de 42 km bem interessante que a nossa estratégia era realiza-lo de dia para facilitar a orientação. Depois entramos na terceira canoagem, a mais difícil da prova. Seriam 45 km de canoagem mais com um desafio, encontrar uma micro ilha no meio do nada e para “melhorar”, com ventos fortíssimos… antes do PC, deveríamos achar um ponto para referência e atacar “azimutados” até o ponto. Mas o Caco tinha um plano B, caso o ponto estivesse encoberto: atacaríamos uma ponta no outro lado do rio e de lá um azimute até a ilha. O único problema é que não percebemos que o ponto na margem oposta já era a Argentina.

Quando chegamos na ponta fomos recebidos pelo Exército Argentino que nos mandou parar e ir para o quartel… estávamos presos! Ainda nos pediram documentos, que obviamente, não tínhamos. Foram 40 minutos de conversa e depois de algumas ligações para a Prefeitura de Encarnacíon, verificaram que não éramos contrabandistas e nos liberaram. Encontramos a Ansilta chegando e fomos juntos até o a duna onde era o PC. De lá, partimos forte para fechar a canoagem, ainda conseguimos alcançar os franceses e chegamos em segundo para os 140 km de bike.

A navegação desse trecho estava relativamente fácil, mas um calor infernal! Tivemos que parar muito para hidratar e molhar o corpo. A prova ainda continuava em um ritmo frenético e nossa perseguição aos franceses também. Com apenas 30 minutos de sono, tentamos fazer o segundo trekking direto, e a estratégia “Kiwi” começou a fazer efeito. No final do trekking, erros nos distanciaram dos franceses e a Paniqueados nos passou. Já estávamos no quarto dia de prova, então entramos na canoagem com o foco de terminar o Rio de dia pois sabíamos que se escurecesse essa modalidade é mortal para o sono. Conseguimos chegar ao delta de dia, mas lá, a noite baixou. Encontramos os Paniqueados tentando achar a saída. Caco estava bem atento e fez uma navegação fantástica, já eu, tive um surto e podia jurar que estava em um roda moinho. Gritava para a equipe remar pois estávamos sendo tragados. Carcaça entrou no surto e começou a remar rápido. Mari e o Caco acompanharam o surto rindo até o PC, quando percebi a loucura.

Como estávamos muito perto da chegada, resolvemos atacar até o fim da prova sem descansar. Entramos na bike, fizemos o vertical, e na saída desse percebemos que seria duro. Dormimos 15 minutos e continuamos. No final de uma subida, o Carcaça desapareceu. Caco voltou e ele estava parado olhando para o milharal, até agora não conseguiu explicar a situação. Depois disso, a Mari caiu feio em um down hill e também já não falava coisa com coisa. Caco também já não estava bem, ainda mais depois de ter passado reto na tirolesa e quebrado o dente. Estava na hora de dormir novamente. Tínhamos avançado até o limite! Paramos mais 30 minutos. Acordamos e continuamos quando de repente, uma equipe surgiu atrás. Para nossa sorte era a Transdev que tinha a penalização, mesmo assim nos deu um gás e fomos mais rápido para a chegada!

Após 98 horas e 25 minutos de prova, cruzamos a linha de chegada em 3º lugar, com nosso objetivo alcançado: passamos bons momentos juntos, e com essa equipe, passamos por qualquer obstáculo!

Agradecimento especial a toda equipe da organização pela recepção; para o povo paraguaio que nos recebeu em suas casas com água gelada e café; ao exército argentino por nos liberar (rs); ao apoio das nossas famílias e amigos que estão sempre torcendo por nós e compreensivos ao abdicar de tempo conosco; ao Professor Caco que muito antes da prova me prepara para aguentar o tranco e tirar energia de onde nem imaginava que existia; à Mari que me incentiva na prova e todos os dias; à gentil locomotiva Carcaça por seu sorriso mesmo nos momento críticos; e ao meu filho João Lucas, a quem eu dedico todo o meu crescimento pessoal para ser uma pessoa melhor.

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